quarta-feira, 9 de junho de 2010

Doença espiritual e a Psicologia


Por: GERSON ABARCA - Psicologo

Na ciência da psicologia não vamos encontrar elementos que abordem o tema doença espiritual. Isto porque é área de estudos das religiões. Mas podemos fazer um paralelo entre doença emocional e doença espiritual a partir das demandas clínicas que os especialístas da psicologia têm acumulado na prática de tratamento dos transtornos emocionais.

Uma boa entrevista diagnóstica psicológica, perguntará sobre qual a prática religiosa que o paciente possui. Pois desta prática poderemos obter muitas informações a cerca dos estabelecimentos de regras e normas ( moral), que o paciente ao longo de sua história foi absorvendo, e que poderá ou não ter relação direta com a patologia psicológica manifesta no presente.

Sabemos que há delírios persecutórios de caráter religioso, isto é, o paciente faz fantasia em relação à símbolos religiosos; ou mesmo escutam a voz de um ser superior designando que faça isto ou aquilo. Também temos em alguns casos obsessivos, elementos de repetição religiosa, como a intensa repetição de processos de auto fragelo, etc. Por isto que surge a grande confusão ao se falar em doença espiritual e doença emocional.

A doença espiritual é aquela relacionada a fatores de interação com a expressão da religiosidade e que geralmente está associado às culpas por falta de perdão ( no sentido religioso - penitente ). Isto é, a pessoa carrega mágoas relacionais que estão levando ao sofrimento pela prática religiosa. Àquelas religiões que são orientadas na regra dos dez mandamentos, onde está definido como norma “não ofender pai e mãe” ou “não abandonar pai e mãe”, onde a pessoa se vê cometendo erro neste campo, por ofença ou distanciamento aos pais, se pega em castigo e sofrimento. Este sofrimento poderá levar a um problema emocional, mas de imediato é um sofrimento espiritual ( Doença espiritual ).

Outro exemplo de sofrimento (Doença) espiritual, é quando nos deparamnos com mulheres que casaram e tiveram que se separar, e no decorrer da vida estreitaram laços amorosos com outro parceiro estabelecendo uma segunda união. Mesmo em plena atividade religiossa, seguindo as orientações da Igreja Católica de não participar da Comunhão Eucarística, tendem a sofrer quando nas Missas não comungam, gerando um sentimento de culpa e remetendo a angústia e sofrimento pelo fato de não poderem Comungar . Este sofrimento é uma forma de doença espiritual, que se não entendida poderá evoluir para uma doença emocional.

O papel do Psicólogo é constatar a ordem do sofrimento, e respeitando a escolha religiosa do paciente, remeter a uma orientação de caráter espiritual, por isto deverá indicar que procure o orientador espiritual da igreja a que pertence, podendo ser um Padre, um Pastor e até um membro da igreja que seja orientador qualificado. Na Pastoral da Família da Igreja Católica temos o setor do aconselhamento familiar que muito está ajudando a corrigir ou esclarecer pendências de ordem religiosa. Por isto mesmo que dizemos que uma Confissão com o Padre pode evoluir para uma cura espiritual.

Negar que há uma doença espiritual por parte da Psiquiatria ou da Psicologia, é não respeitar as práticas religiosas vivenciada por mais de 90% da população brasileira. Não vamos aqui entrar no mérito das religiões, todas elas possuem seu valor e seus adeptos. Um profissional Psique, precisa conhecer as diferentes práticas religiosas de sua região para poder entender entre um sofrimento emocional proveniente de um doença espiritual com um sofrimento emocional proveniente de um transtorno emocional. Sabemos que um pode levar ao outro e vice-versa.

Lembro-me de um caso que atendi há muitos anos atrás, onde a paciente tinha desmaios diante do Santíssimo da capela em que frequentava. Ela era uma paciente psiquiátrica que fora tratada da sua primeira crise em um hospital psiquiátrico espírita. Como havia melhorado de seus sintomas, ela manteve-se ligada ao centro espírita de sua cidade, porém era Católica de origem e cultuava Nossa Senhora de Aparecida. Estáva em um dilema espiritual. Mesmo sendo uma paciente psiquiátrica, observamos que seus desmaios diante do Santíssimo era por conflito religioso. Ela tinha uma dívida com os espíritas que a levaram para o hospital, divida que ela mesma criou, não que ouve indução para isto, mas no fundo queria ser fiel a sua religião Católica e à Nossa Senhora. Quando ela conseguiu ver este dilema e entender, com ajuda da psicoterapia de suporte, definiu sua escolha religiosa ( manteve-se na Igreja Católica e parou de frequentar o centro espírita), deixou de desmaiar diante do Santíssimo. Ela estava neste item em sofrimento espiritual (doente espiritualmente). Veja que este caso muito complexo, trás os dois elementos, uma doença emocional e uma doença espiritual.

O alerta que faço, é que ao se curar uma doença espiritual, tendo observado fatores reais desta manifestação, a pessoa poderá continuar em sofrimento emocional, o que estará caracterizando que ela necessitará também de um processo de cura emocional. Aí sim , de uma ajuda profissional com Psicólogo e em alguns casos auxílio medicamentoso Psiquiátrico.

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