terça-feira, 21 de dezembro de 2010

As Crônicas de Narnia: a viagem do peregrino da alvorada”

Por:Pedro Ravazzano

The Voyage of the Dawn Treader, o quinto livro da saga de C.S Lewis e o terceiro filme da série, endossa com mais vigor a forte referência cristã que permeia toda a obra. Além da defesa clara das virtudes e dos valores humanos, o enredo e a construção das personagens aprofundam nas relações dos homens e na perspectiva de transcendência diante do sagrado.

A obra é muito bem construída e nela cabem tanto leituras alegóricas e morais como anagógicas. Para um espectador desavisado “As Crónicas de Nárnia” serão apenas filmes com memoráveis cenas de ação e uma temática que é digna da atenção de toda a família. Claro que essa percepção, ainda que superficial, é válida e frutífera. Não obstante, é na compreensão do sentido mais profundo que os escritos de C.S Lewis se fazem plenos. Esse supra-sentido, como diz Dante Alighieri, “ocorre quando se expõe espiritualmente um escrito, o qual, pelas coisas significadas, significa as sublimes coisas da glória eterna.” (Convívio, II, 1) .

No terceiro filme destaca-se três grandes momentos; toda a incursão dos homens na luta contra o Mal – e aqui se sobressai a maldade em sua essência mais bruta que relaciona-se diretamente com a ausência do amor, de Deus – a forte transformação e redenção de Eustáquio e, por fim, a apoteótica despedida de Aslam a Lúcia e Edmundo.

A obra se forma centrada na saga dos homens que iniciam uma empreitada pela salvação dos narnianos oprimidos e perseguidos pelo Mal. Vale frisar, primeiramente, que os viajantes são aconselhados por um virtuoso mago a enxergarem não apenas as trevas que assolam Nárnia mas principalmente a escuridão que habita neles. Isso se confirma diante das tentações e provações que pelas quais passam. Assim como eles poderiam escolher o mal optam, livremente, pelo caminho do bem. Ademais, essa temática se afasta com firmeza de qualquer princípio calvinista; ainda que sem Deus o homem nada possa, é na sua abertura à graça que o Senhor age.

Outra cena bem particular é a transformação de Eustáquio. O que era um garoto pobre em virtudes e valores, desprovido de qualquer percepção do Sagrado – vide a sua relutância em compreender a “fantasia” de Nárnia – redimi-se após a forte experiência da mutação em dragão. O momento do seu retorno à forma humana inicia-se com a tentativa de com as suas garras cortar o grosso coro draconiano – isso após uma atuação extraordinária contra a diabólica serpente marinha. Ou seja, já há o fundamental desejo e a essencial vontade de livrar-se da condição de miserabilidade. Não obstante, sem Deus, sem Aslam, não poderia fazer. Surge então o Leão que com as suas patas cortando a areia e o seu majestoso rugido rompe a carapaça que cobria o Eustáquio velho, dando-lhe um banho – o batismo. Assim nasce um novo homem redimido pela ação do Senhor. O próprio atesta em seguida; “A princípio ardeu muito, mas em seguida foi uma delícia”

Por fim a cena mais impactante dessa obra; a despedida final. Lúcia e Edmundo, assim como Susana e Pedro, foram avisados que não mais poderão retornar. Aslam, então transfigurado em Cordeiro – clara alusão ao Cordeiro de Deus, Jesus Cristo – os apresenta ao seu país, protegido por uma densa parede aquática e que só poderia ser desbravado pelos homens que não mais intentassem voltar; a ida será definitiva. A jovem Lúcia, comovida com a partida, questiona o Leão. Vejamos o trecho completo:

Continuaram e viram que era um cordeiro.
Venham almoçar – disse o Cordeiro na sua voz doce e meiga. [banquete do Cordeiro?]
Notaram que ardia sobre a relva uma fogueira, na qual se fritava peixe. Sentaram-secomeram, sentindo fome pela primeira vez desde muitos dias. E aquela comida era a melhor de todas as que haviam provado.
– Por favor, Cordeiro – disse Lúcia –, é este o caminho para o país de Aslam?
– Para vocês, não – respondeu o Cordeiro. – Para vocês, o caminho de Aslam está no seu próprio mundo.
– No nosso mundo também há uma entrada para o país de Aslam? – perguntou Edmundo.
– Em todos os mundos há um caminho para o meu país – falou o Cordeiro. E, enquanto ele falava, sua brancura de neve transformou-se em ouro quente, modificando-se também sua forma.
E ali estava o próprio Aslam, erguendo-se acima deles e irradiando luz de sua juba.
– Aslam! – exclamou Lúcia. – Ensine para nós como poderemos entrar no seu país partindo do nosso mundo.
– Irei ensinando pouco a pouco. Não direi se é longe ou perto. Só direi que fica do lado de lá de um rio. Mas nada temam, pois sou eu o grande Construtor da Ponte. [Cristo, Pontífice e Sumo Sacerdote da humanidade diante de Deus] Venham. Vou abrir uma porta no céu para enviá-los ao mundo de vocês.
– Por favor, Aslam – disse Lúcia –, antes de
partirmos, pode dizer-nos quando voltaremos a Nárnia? Por favor, gostaria que não demorasse…
– Minha querida – respondeu Aslam muito docemente –, você e seu irmão não voltarão mais a Nárnia.
– Aslam! – exclamaram ambos, entristecidos.
– Já são muito crescidos. Têm de chegar mais perto do próprio mundo em que vivem.

– Nosso mundo é Nárnia – soluçou Lúcia. – Como poderemos viver sem vê-lo?
– Você há de encontrar-me, querida – disse Aslam.
– Está também em nosso mundo? – perguntou Edmundo.
Estou. Mas tenho outro nome. Têm de aprender a conhecer-me por esse nome. Foi por isso que os levei a Nárnia, para que, conhecendo-me um pouco, venham a conhecer-me melhor.

Aslam, o Cordeiro de Deus e o Leão da Tribo de Judá, é Nosso Senhor Jesus Cristo!

domingo, 12 de dezembro de 2010

Nossa Senhora de Guadalupe


Em 1531, os missionários espanhóis franciscanos e dominicanos evangelizavam os índios maias e astecas no México, e tinham muita dificuldade nessa missão porque esses índios eram idólatras e ofereciam aos seus muitos deuses sacrifícios humanos de milhares de rapazes e de virgens, nos altos das muitas pirâmides que podem ser visitadas ainda hoje no México. Um sacerdote cortava fora o coração de vítima, com uma faca de pedra pouco afiada e o oferecia aos deuses.

Nesse ano a Virgem Mãe de Deus apareceu ao piedoso índio São João Diego, na colina de Tepeyac, perto da capital do México. Com muito carinho ela pediu que ele fosse ao bispo pedir-lhe que nesse lugar construísse um Santuário em sua honra. D.João de Zumárraga, primeiro bispo do México, franciscano, vindo da Espanha, retardou a resposta a fim de averiguar cuidadosamente o ocorrido. Quando o índio, movido por uma segunda aparição e nova insistência da Virgem, renovou suas súplicas entre lágrimas, ordenou-lhe o bispo que pedisse a Nossa Senhora um sinal de que a ordem vinha realmente da grande Mãe de Deus.

Então Nossa Senhora enviou ao Bispo o conhecido sinla milagroso das rosas. Ela disse ao índio: “Filho querido, essas rosas são o sinal que você vai levar ao bispo. Diga-lhe em meu nome que, nessas rosas, ele verá minha vontade e a cumprirá. Você é o meu embaixador e merece a minha confiança… Quando chegar diante do Bispo, desdobre a sua tilma” (manto) e mostre-lhe o que carrega, porém só na presença do bispo. Diga-lhe tudo o que viu e ouviu, nada omitindo…”

Essas rosas só davam em Castela na Espanha, de onde era procedente o bispo. João Diego obedeceu e, ao despejar as flores perante o bispo, eis que surge no seu manto a linda pintura milagrosa de Nossa Senhora tal como ela lhe apareceu. O bispo acompanhou João ao local designado por Nossa Senhora.

O ícone de Nossa Senhora de Guadalupe é repleto de sinais milagrosos. Até hoje os cientistas não conseguem explicá-lo. Não sabem que produto tingiu o manto; não é deste mundo. A fama do milagre espalhou-se rapidamente por todo o território. Os cidadãos, profundamente impressionados por tão grande prodígio, procuraram guardar respeitosamente a santa Imagem na capela do paço episcopal. Mais tarde, após várias construções e ampliações, chegou-se ao templo atual.

Em 1754, escrevia o papa Bento XIV: “Nela tudo é milagroso: uma Imagem que provém de flores colhidas num terreno totalmente estéril, no qual só podem crescer espinheiros; uma Imagem estampada numa tela tão rala que, através dela, pode-se enxergar o povo e a nave da Igreja tão facilmente como através de um filó; uma Imagem em nada deteriorada, nem no seu supremo encanto, nem no brilho de suas cores, pelas emanações do lago vizinho que, todavia, corroem a prata, o ouro e o bronze… Deus não agiu assim com nenhuma outra nação.”

A partir das aparições de Nossa Senhora de Guadalupe os missionários passaram a evangelizar os índios em massa; mais de sete milhões foram batizados em poucos anos e o México é hoje o país que mais católicos têm (94% da população).

Em 1910 o Papa S. Pio X proclamou Nossa Senhora de Guadalupe “Padroeira da América Latina”, e em 1945, o Papa Pio XII a proclamou “Imperatriz da América Latina”. Há hoje, infelizmente, uma mentalidade muito errada em nossos meios acadêmicos que quer ver na civilização asteca algo melhor que nossa atual civilização cristã; nada mais triste. A turma do “politicamente correto”, inclusive os adeptos da perigosa teologia da libertação, quer desprezar os missionários espanhóis, que “impuseram uma religião estrangeira sobre os inocentes nativos que encontraram.” Inocentes nativos?

As grandes sociedades asteca e maia foram construídas com base na conquista de povos não-astecas e não-maias, com a mão-de-obra escrava e o assassinato ritual daqueles escravos. Seus elogiados canais e magníficos templos foram construídos por escravos. Estas culturas se man­tiveram baseadas no medo. Quem se indispusesse com os sacerdotes, pagos pelo Estado; tinha seu coração arrancado fora. Numa única cerimônia os astecas cortaram fora os corações de 10 mil virgens obtidas com o seqüestro de moças e meninas dos povoados vizinhos. Esses corações eram oferecidos aos deuses. (cf. “Astecas eram escravocratas e genocidas”, William A. Hamilton, escritor e colunista, artigo para a “USA Today”). Nelson Ascher, jornalista Integrado à equipe de articulistas da “Folha de São Paulo”, no seu artigo Canibalismo dos Astecas”, diz entre outras coisas que:

“Sabe-se que o centro da religião asteca era a sacrifício humano, mas a escala em que era realizado aponta para urna realidade ainda mais sinistra. Segundo palavras do padre espanhol Sahgun, o mais minucioso historiador de então da civilização indígena do México, pode-se ver a descrição do sacrifício humano no topo das pirâmides: a vítima, segura por quatro sacerdotes, tinha o peito aberto por um quinto com uma faca de obsidiana, e seu coração pulsante arrancado -, após ser o cadáver arrojado escada abaixo culminava com um singelo: “Después, lo cocian Y lo comian’ (Depois cozinhavam-no e comiam)”.

“Carne humana era muito apreciada com tomate nativo da região, e provavelmente temperada com chili. Num festival de quatro dias, em finais do século 15, os astecas te­riam “abatido” vinte mil prisioneiros. Parece que este era também o consumo anual médio só na capital.”

“Os astecas inclusive promoviam suas numerosas guerras com a única finalidade de capturar prisioneiros para seus rituais sofisticados que incluíam, em um de seus meses, o esfolamento após a qual os sacerdotes se vestiam com as peles das vítimas.”

Podemos chamar isso de civilização?

Infelizmente essas cruentas práticas dos maias e astecas são acoberta­das, enquanto as práticas dos espanhóis são anunciadas aos quatro ventos. Mostram-se em planetários os feitos dos astecas e maias no campo da astronomia, mas as o assassi­nato ritual e rotineiro de milhões de pessoas é maliciosamente encoberto.

Como pode uma “civilização” desta ser melhor do que o Cristianismo, que prega amor até aos inimigos? É um contra senso; uma grande incoerência. Por isso a chegada de Fernando Cortez em 1521 no México e os esforços para converter os povos indígenas ao cristianismo são tratados com desdém.

O Papa Bento XVI no seu discurso de abertura do V CELAM, em Aparecida, falou da importância da evangelização da América Latina que começou com Cristóvão Colombo em 12 de outubro de 1492. Ele disse:

“O anúncio de Jesus e de seu Evangelho não supôs, em nenhum momento, uma alienação das culturas pré-colombianas, nem foi uma imposição de uma cultura estranha”.

“Para os povos pré-colombianos, a evangelização significou conhecer e acolher a Cristo, o Deus desconhecido que seus antepassados, sem sabê-lo, procuravam em suas ricas tradições religiosas. Cristo era o Salvador que desejavam silenciosamente”.

“Significou também ter recebido, com as águas do batismo, a vida divina que os fez filhos de Deus por adoção; ter recebido, além disso, o Espírito Santo que veio a fecundar suas culturas, as purificando e desenvolvendo os numerosos germens e sementes que o Verbo encarnado tinha posto nelas, as orientando assim pelos caminhos do Evangelho”.

“A utopia de voltar a dar vida às religiões pré-colombianas, separando as de Cristo e da Igreja universal, não seria um progresso, a não ser um retrocesso. Em realidade seria uma involução para um momento histórico ancorado no passado”.

É verdade que houve muitos erros e abusos por parte dos espanhóis que para cá vieram; muitos saíram das prisões na Espanha; mas o Evangelho livrou o México da barbárie asteca e maia. E isso graças a Nossa Senhora de Guadalupe, Aquela que “esmaga a cabeça da serpente”, e aos valorosos franciscanos e dominicanos.

Prof. Felipe Aquino

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

A Imaculada Conceição

Fonte: Lepanto

Reza o dogma católico que a Bem-aventurada Virgem Maria, desde o primeiro instante de sua conceição, foi preservada da nódoa do pecado original, por privilégio único de Deus e aplicação dos merecimentos de seu divino Filho.

O dogma abrange dois pontos importantes:

a) O primeiro é ter sido a Santíssima Virgem preservada da mancha original desde o princípio de sua conceição. Deus abrogou para ela a lei de propagação do pecado original na raça de Adão; ou por outra, Maria foi cumulada, ainda no começo da vida, com os dons da graça santificante.

b) No segundo, vê-se que tal privilégio não era devido por direito. Foi concedido na previsão dos merecimentos de Jesus Cristo. O que valeu a Maria este favor peculiar foram os benefícios da Redenção, na previsão dos méritos de Jesus Cristo, que já existiam nos eternos desígnios de Deus.

Como se dá a transmissão do Pecado Original

Primeiramente, é necessário esclarecer em que consiste a transmissão do "Pecado Original". A lei geral: "Todos os homens pecaram num só" é o grande argumento dos protestantes contra a "Imaculada Conceição". Tal lei é certa e, segundo vamos demonstrar, não encontra a mínima contradição com o dogma católico.

S. Francisco de Sales, no seu "Tratado do amor de Deus", exprime essa verdade de um modo singelo e glorioso! "A torrente da iniqüidade original veio lançar as suas ondas impuras sobre a conceição da Virgem Sagrada, com a mesma impetuosidade que sobre a dos demais filhos de Adão; mas chegando ali, as vagas do pecado não passaram além, mas se detiveram, como outrora o Jordão no tempo de Josué, aqui respeitando a arca da aliança a torrente parou; lá em atenção ao Tabernáculo da verdadeira aliança, que é a Virgem Maria, o pecado original se deteve."

Os protestantes deveriam compreender a diferença essencial que há entre "pecar em Adão" e "pecar pessoalmente", como são coisas bem distintas pertencer a uma raça pecadora e ser pecador.

De que modo, afinal, contraímos nós o pecado original?

Tal transmissão não se pode fazer pela "criação" da alma; afirmar isso seria dizer que Deus é o autor do pecado, o que é impossível e repugna. Não se transmite tão pouco pelos pais, pois a alma dos filhos não se origina das almas dos pais, mas é criada por Deus. A transmissão se efetua pela "geração".

A alma é criada por Deus no estado de inocência perfeita, mas contrai a "mácula", unindo-se a um corpo formado de um gérmen corrompido, do mesmo modo que ela sofreria, se fosse unida a um corpo ferido. É a opinião de Santo Tomás.

Santo Agostinho diz a propósito: "Apesar de nascerem de pais batizados, os filhos vêm à luz com o pecado original, como do trigo inutilizado germina uma espiga, em que o grão é misturado com a palha."

Nesse mistério do nascimento de uma criança, pelo exposto, opera-se uma dupla conceição: a da alma e a do corpo. Foi nesse momento quase imperceptível que Deus preservou do pecado original a "pessoa" de Maria Santíssima. Criou sua alma, como criou as nossas. Os progenitores de Nossa Senhora formaram-lhe o corpo, como nossos pais formaram o nosso. Até aqui tudo é natural; o milagre da preservação limita-se ao instante em que o Criador uniu a alma ao corpo.

Desta união devia resultar a "transmissão do pecado". Deus fez parar o curso desta transmissão, de modo que nela a união se operou, como se tinha realizado na pessoa de Adão, quando Deus, depois de ter feito o corpo do primeiro homem, soprou nele o espírito, constituindo-o na perfeição da inocência e justiça original.

Maria é uma segunda Eva... mas Eva antes de sua queda! Tal é a sublime doutrina da Igreja de Cristo.

A Exceção à Lei Geral

Seria possível objetar-se que Deus não tem poder para derrogar as leis gerais por Ele mesmo estabelecidas?

Seria negar a onipotência divina e fixar limites Àquele que não os tem.

É uma lei geral que "todos pecaram num só". Tal fato é universal, e todas as criaturas a ele estão subordinadas. Todavia, nada impede que, antes de efetuar-se a união da alma com o corpo, Deus possa intervir e suspender "um dos seus efeitos", o qual é, precisamente, a transmissão desse "pecado original".

A Sagrada Escritura está repleta dessas derrogações de leis gerais. O movimento do sol e da lua está matematicamente fixado pela lei da natureza; entretanto, Josué não hesitou em fazê-lo parar: "Sol detem-te em Gibeon, e tu, lua, no vale de Hadjalon. E o sol deteve-se e a lua parou" (Jos. 10, 12-13).

É uma lei que as águas sigam a correnteza do seu curso. Entretanto, "Moisés estendeu a mão..." o mar deixou livre o seu leito, partiram-se as águas, com um muro à sua esquerda e à sua direita (Exod. 14, 21 e 22).

É uma lei que o um morto fique morto até à ressureição geral; entretanto, o próprio Cristo-Deus, diante do cadáver de Lázaro, já em putrefação, exclamou: "Lázaro, sai!" (Jo 11, 43 e 41). E imediatamente aquele que estava morto saiu vivo.

Que prova isso, demonstra que "para Deus nada é impossível" (Lc 18, 27).

Será, então, que os protestantes acham impossível que Deus preserve Maria Santíssima do Pecado Original?

Se a lei geral fosse superior ao poder de Deus, como ficaria o Homem-Deus? Ele, em sua natureza humana, foi preservado do pecado original, mesmo nascendo de uma mulher. Se fosse impossível a Deus manter Imaculada a sua Mãe, também seria impossível manter "imaculado" o Seu Filho único, que nasceu verdadeiro Homem e verdadeiro Deus.

Provas na Sagrada Escritura:

Depois da queda do pecado original, Deus falou ao demônio, oculto sob a forma de serpente: "Ei de por inimizade entre ti e a mulher, entre sua raça (semente) e a tua; ela te esmagará a cabeça" (Gen 3, 15). Basta um pouco de boa-vontade para compreender de que "mulher" o texto fala. A única mulher "cheia de graça", "bendita entre todas", na qual a "semente" ou (raça) foi Nosso Senhor Jesus Cristo (e os cristãos), é a Santíssima Virgem, a nova Eva, mãe do Novo Adão. Conforme esse texto, há uma luta entre dois antagonistas: de um lado, está uma mulher com o filho; do outro, o demônio. Quem há de ganhar a vitória são aqueles e não estes. Ora, se Nossa Senhora não fosse imaculada, essa inimizade não seria inteira e a vitória não seria total, pois Maria Santíssima teria sido, pelo menos em parte, sujeita ao poder do demônio através do Pecado Original. Em outras palavras, a inimizade entre a mulher (e sua posteridade) e a serpente, implica, necessariamente, que Nosso Senhor e Nossa Senhora não poderiam ter sido manchados pelo pecado original.

Na saudação angélica, quando S. Gabriel diz: "Ave, cheia de graça. O Senhor é convosco". Ora, não se exprimiria desta maneira o anjo e nem haveria plenitude de graça, se Nossa Senhora tivesse o pecado original, visto o homem ter perdido a graça após o pecado.

A maneira da saudação angélica transparece a grandeza de Nossa Senhora, pois o Anjo a saúda com a "Ave, Cheia de Graça". Ele troca o nome "Maria" pela qualidade "Cheia de Graça", como Deus desejou chamá-la.

Ao mesmo tempo, a afirmação "o Senhor é convosco" abrange uma verdade luminosa. Se Nosso Senhor é (está) com Nossa Senhora antes da encarnação ("é convosco"). Sendo palavras anteriores à encarnação do verbo no seio da Virgem Maria, forçoso é reconhecer que onde está Deus não está o pecado. Ou seja, Nossa Senhora não tinha o "pecado original".

Prossegue o arcanjo: Não temas, Maria, pois "achaste graça diante de Deus". Aqui termina a revelação da Imaculada Conceição para começar a da maternidade divina: "Eis que conceberás no teu ventre e darás à luz um filho, e por-lhe-ás o nome de Jesus". (Lc 1, 28).

Pela simples leitura percebe-se a conexão estreita entre duas verdades: "Maria será a mãe de Jesus, porque achou graça diante de Deus".

Mas, que graça Nossa Senhora achou diante de Deus para poder ser escolhida como a Mãe Dele? Ora, a única graça que não existia - ou que estava "perdida" - era a "graça original". Falar, pois, que: "Maria achou graça" é dizer que achou a "graça original". Ora, a "graça original" é a "Imaculada Conceição"!

Os evangelhos sinóticos deixam claro que a palavra "Cheia de Graça", em grego: "Kecharitoménê", particípio passado de "charitóô", de "Cháris", é empregado na Sagrada Escritura para designar a graça em seu sentido pleno, e não no sentido corrente. A tradução literal seria: "omnino Plena Caelesti gratia" ou "Ominino gratiosa reddita": "Cheia de graça".

Ou seja, a tradução do latim: "gratia plena" é mais perfeita do que a palavra portuguesa: "cheia de graça". Nossa Senhora não apenas "encontrou graça", mas estava "plena" de Graça. Corroborando o que disse o Arcanjo logo em seguida: "O Senhor é contigo".

Falando à Santíssima Virgem que Ela "achara graça", o Arcanjo diz: Maria, sois imaculada, e, por isto, sereis a Mãe de Jesus Cristo.

Também é pela própria razão que se pode concluir a Imaculada Conceição. É claro que o argumento racional não é definitivo, mas corroborou com muita conveniência - e completa harmonia - para com ele. Se Maria Santíssima fosse manchada do pecado original, essa mancha redundaria em menor glória para seu filho, que ficou nove meses no ventre de uma mulher que teria sido concebida na vergonha daquele pecado. Se qualquer mácula houvesse na formação de Maria Santíssima, teria havido igualmente na formação de Jesus, pois o filho é formado do sangue materno.

S. Paulo assim se expressa sobre o ventre de onde nasceu o menino-Deus: "Cristo, porém, apareceu como um pontífice dos bens futuros. Entrou no tabernáculo mais excelente e perfeito, não construído por mãos humanas, nem mesmo deste mundo" (Hebr 9, 12).

Que tabernáculo é esse, "não construído por mãos humanas", por onde "entrou" Nosso Senhor Jesus Cristo? Fica claro o milagre operado em Nossa Senhora na previsão dos méritos de seu divino Filho. Negar que Deus pudesse realizar tal milagre (Imaculada Conceição) seria duvidar de sua onipotência. Negar que Ele desejaria fazer tal milagre seria menosprezar seu amor filial, pois, como afirma S. Paulo: Deus construiu o seu "tabernáculo" que não foi "construído por mãos humanas".

Ora, este tabernáculo, feito imediatamente por Deus e para Deus, devia revestir-se de toda a beleza e pureza que o próprio Deus teria podido outorgar a uma criatura.

E esta pureza perfeita e ideal se denomina: a Imaculada Conceição.

Agora examinemos a Tradição, desde os primeiros séculos:

S. Tiago Menor, o qual realizou o esquema da liturgia da Santa Missa, prescreve a seguinte leitura, após ler uns passos do antigo e do novo testamento, e de umas orações: "Fazemos memória de nossa Santíssima, Imaculada, e gloriosíssima Senhora Maria, Mãe de Deus e sempre Virgem".

O santo Apóstolo não se limita a isso, mas torna a sua fé mais expressiva ainda. Após a consagração e umas preces, ele faz dizer ao Celebrante: "Prestemos homenagem, principalmente, a Nossa Senhora, a Santíssima, Imaculada, abençoada acima de todas as criaturas, a gloriosíssima Mãe de Deus, sempre Virgem Maria. E os cantores respondem: É verdadeiramente digno que nós vos proclamemos bem-aventurada e em toda linha irrepreensível, Mãe de Nosso Deus, mais digna que os querubins, mais digna de glória que os serafins; a vós que destes à luz o Verbo divino, sem perder a vossa integridade perfeita, nós glorificamos como Mãe de Deus" (S. jacob in Liturgia sua).

O evangelista S. Marcos, na Liturgia que deixou às igrejas do Egito, serve-se de expressões semelhantes: "Lembremo-nos, sobretudo, da Santíssima, intemerata e bendita Senhora Nossa, a Mãe de Deus e sempre Virgem Maria".

Na Liturgia dos etíopes, de autor desconhecido, mas cuja composição data do primeiro século, encontramos diversas menções explícitas da Imaculada Conceição. Umas das suas orações começa nestes termos: Alegrai-vos, Rainha, verdadeiramente Imaculada, alegrai-vos, glória de nossos pais. Mais adiante, é pela intercessão da Imaculada Virgem Maria que o Sacerdote invoca a Deus em favor dos fiéis: "Pelas preces e a intercessão que faz em nosso favor Nossa Senhora, a Santa e Imaculada Virgem Maria.".

Terminamos o primeiro século com as palavras de Santo André, apóstolo, expondo a doutrina cristã ao procônsul Egeu, passagem que figura nas atas do martírio do mesmo santo, e data do primeiro século: "Tendo sido o primeiro homem formado de uma terra imaculada, era necessário que o homem perfeito nascesse de uma Virgem igualmente imaculada, para que o Filho de Deus, que antes formara o homem, reparasse a vida eterna que os homens tinham perdido" (Cartas dos Padres de Acaia).

A doutrina da Imaculada Conceição era, pois, conhecida no primeiro século e por todos admitida. A esse respeito, nenhuma contradição se levantou na primitiva Igreja.

No século segundo, os escritos dos Santos Padres falam da Imaculada Conceição como um fato indiscutível. Entre os escritores e oradores deste século, contamos: S. Jusitino, apologista e mártir; Tertuliano e Santo Irineu.

No terceiro século, existem também textos claros em defesa da Imaculada Conceição. mas em menor quantidade.

Santo Hipólito, bispo de Porto e mártir, escreveu em 220: "O Cristo foi concebido e tomou o seu crescimento de Maria, a Mãe de Deus toda pura". Mais além ele diz: "Como o Salvador do mundo tinha decretado salvar o gênero humano, nasceu da Imaculada Virgem Maria".

Orígenes, que viveu em 226 e pareceu resumir a doutrina e as tradições de sua época, escreveu: "Maria, a Virgem-Mãe do Filho único de Deus, é proclamada a digna Mãe deste digno Filho, a Mãe Imaculada do Santo e Imaculado, sendo ela única, como único é o seu próprio Filho."

Em um dos seus sermões sobre S. José, Orígenes faz o mensageiro celeste dizer ao santo: "Este menino não precisa de Pai na terra, porque tem um pai incorruptível no céu; não precisa de Mãe no Céu, porque tem uma Mãe Imaculada e casta na terra, a Virgem Bem-aventurada, Maria".

No século quarto, aparecem inúmeros escritos sobre a Imaculada Conceição, cada vez mais explícitos e em maior número. Temos diante de nós as figuras incomparáveis de Santo Atanásio, de Santo Efrem, de S. Basílio Magno, de Santo Epifânio, e muitos outros, que constituem a plêiade gloriosa dos grandes Apóstolos do culto da Virgem Santíssima e, de modo particular, de sua Imaculada Conceição.

Um trecho de Lutero, para mostrar que nem ele se atreveu a contestar a Imaculada Conceição: "Era justo e conveniente, diz ele, fosse a pessoa de Maria preservada do pecado original, visto o filho de Deus tomar dela a carne que devia vencer todo pecado". (Lut. in postil. maj.).

Para terminar, transcreveremos um pequeno soneto.

Em 1823, dois sacerdotes dominicanos, Pes. Bassiti e Pignataro, estavam exorcizando um menino possesso, de 12 anos de idade, analfabeto. Para humilhar o demônio, obrigaram-no, em nome de Deus, a demonstrar a veracidade da Imaculada Conceição de Maria. Para surpresa dos sacerdotes, pela boca do menino possesso, o demônio compôs o seguinte soneto:

"Sou verdadeira mãe de um Deus que é filho,
E sou sua filha, ainda ao ser-lhe mãe;
Ele de eterno existe e é meu filho,
E eu nasci no tempo e sou sua mãe.

Ele é meu Criador e é meu filho,
E eu sou sua criatura e sua mãe;
Foi divinal prodígio ser meu filho
Um Deus eterno e ter a mim por mãe.

O ser da mãe é quase o ser do filho,
Visto que o filho deu o ser à mãe
E foi a mãe que deu o ser ao filho;

Se, pois, do filho teve o ser a mãe,
Ou há de se dizer manchado o filho
Ou se dirá Imaculada a mãe.

Conta-se que o Papa Pio IX chorou, ao ler esse soneto que contém um profundíssimo argumento de razão em favor da Imaculada.

Nossa Senhora foi a restauradora da ordem perdida por meio de Eva. Eva nos trouxe a morte, Maria nos dá a vida. O que Eva perdeu por orgulho, Nossa Senhora ganhou por humildade.

O Dogma da Imaculada Conceição foi proclamado pelo Papa Pio IX, cercado de 53 cardeais, de 43 arcebispos, de 100 bispos e mais de 50.000 romeiros vindos de todas as partes do mundo, no dia 8 de dezembro de 1854.

Passados apenas 3 anos dessa solene proclamação, em 11 de agosto de 1858, Nossa Senhora dignou-se aparecer milagrosamente quinze dias seguidos, perto da pequena cidade de Lourdes, na França, a uma pobre menina, de 13 anos de idade, chamada Bernadete.

No dia 25 de março, Bernadete suplicou que Nossa Senhora lhe revelasse seu nome. Após três pedidos seguidos, Nossa Senhora lhe respondeu: "Eu sou a Imaculada Conceição".

Eis a chave de ouro que encerra a tradição ininterrupta dos Apóstolos.

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Padre diz que polícia revirou igreja no Alemão

Fonte: G1

Por:Carolina Iskandarian

O padre Barnabé mostra a cozinha da igreja toda revirada

De batina branca, chapéu de palha e ar de bravo, o padre Barnabé Cunha desceu rapidamente uma das ladeiras do conjunto de favelas do Alemão, na Zona Norte do Rio, para fazer uma denúncia: “quebraram tudo lá dentro. Foi a segunda vez desde domingo”, afirmou ele nesta terça-feira (30), referindo-se à Capela São João, que fica no Largo do Coqueiro. Questionado se tinha sido a polícia, não hesitou: “foi sim.”

O G1 procurou a assessoria de imprensa do comandante-geral da Polícia Militar e o porta voz da corporação, mas não obteve retorno das ligações para que comentassem a denúncia. Pela manhã, o governador Sérgio Cabral Filho disse que "não vai tolerar abusos" por parte de maus policiais e que todos, quando descobertos, serão punidos até com expulsão.

De acordo com o padre, que tem 48 anos, cinco deles vividos à frente da igrejinha, os policiais usaram a capela “como ponto de observação”, pois fica em uma parte alta da comunidade.

Apesar das críticas, o padre afirmou que nada foi levado do local. No fim da tarde, ele mostrou o estado da capela: fechaduras haviam sido quebradas, portas estavam arrombadas, armários, a cozinha da igreja e uma sala que servia como espécie de almoxarifado estavam revirados. Os bancos de madeira onde se sentam os fiéis foram derrubados.

Barnabé contou que a primeira invasão foi domingo, dia em que a polícia invadiu o morro, e a segunda, teria ocorrido na manhã desta terça.

Barnabé mostra a fechadura da porta quebrada

A zeladora da capela chorou ao lembrar que, nessa suposta segunda invasão, ela foi agredida. “Jogaram água gelada em mim. Acharam que eu era traficante. Ajudei a construir essa igreja. Quero mostrar a eles que aqui mora gente e não bicho”, reclamou Ivanilda da Silva de Oliveira, de 57 anos.

A fachada do pequeno prédio de dois andares tem marcas de tiro, mas não se sabe se elas são recentes.

Serviços
Barnabé denunciou seu caso diretamente à Defensoria Pública do Rio, que montou um “escritório” na entrada do Alemão para “garantir a cidadania a todos”, disse o defensor Denis Sampaio, coordenador das ações no local. Segundo um balanço da Defensoria, entre 15h e 18h, foram realizados 30 atendimentos. Um deles foi o do padre. “Ele falou que os policiais entraram na igreja de forma truculenta e uma senhora disse que jogaram água nela”, contou Sampaio.
O defensor Leonardo Guida informou que apenas algumas das denúncias dos moradores do Alemão têm a ver com a operação. “Tem comerciante que precisa sair com dinheiro para fazer pagamentos e não consegue passar pelo bloqueio.” Nas ruas de acesso ao Alemão, policiais e militares do Exército revistam homens e mulheres.


segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Bento XVI aos religiosos: sejam “buscadores de Deus”


Audiência no vaticano a superiores e superioras gerais
Fonte:Zenit

“Passem das coisas secundárias às coisas essenciais, àquilo que é verdadeiramente importante; busquem o definitivo, busquem Deus, mantenham o olhar voltado para Ele. Diante do provisório busquem aquilo que permanece, aquilo que não passa... Sejam sempre apaixonados buscadores e testemunhas de Deus!"

Foi o convite do Papa Bento XVI aos participantes da Assembleia geral semestral da União dos Superiores Gerias (US) e ao Comitê diretivo da União internacional das Superioras gerais (UISG), recebidos em audiência na última sexta-feira.

No discurso de saudação ao Papa, o presidente da USG, Pascual Chávez Villanueva, afirmou que para a vida consagrada este é “um tempo difícil, com um contexto social e cultural que não favorece a estima e a atenção a uma eleição tão bela e comprometida como é a de seguir a Jesus através da prática dos conselhos evangélicos”.

“A vida consagrada está chamada a um esforço por recuperar uma voz própria dentro da sociedade europeia. Não é questão de fascinação, mas de fidelidade”. E isto através de um compromisso triplo: “encontrar novamente a profundidade da experiência espiritual; construir comunidade onde se vive com alegria o dom da fraternidade; recuperar a centralidade da missão e servi-la com mais transparência”.

Bento XVI se referiu ao forte descenso das vocações religiosas, especialmente na Europa.

Como apresentou frei José Rodríguez Carballo, ministro geral da Ordem dos Frades Menores durante a assembleia, entre 1997 e 2005 o número de sacerdotes na Europa passou 64.803 a 59.787; enquanto que as religiosas, de 388.693 a 322.995.

"A profunda renovação da vida consagrada – afirmou – parte da centralidade da Palavra de Deus" ouvida e colocada em prática. “O Evangelho vivido diariamente é o elemento que dá fascínio e beleza à vida consagrada e os apresenta diante do mundo como uma alternativa confiável. A sociedade atual precisa disso, a Igreja espera isto de vocês: ser Evangelho vivo”.

Outro aspecto fundamental da vida consagrada é a fraternidade, "elemento profético importante" no contexto de “uma sociedade fortemente individualista”.

O Papa ressaltou “as dificuldades que a vida comunitária comporta”, convidando a buscarem os meios para “favorecer a comunhão nas relações recíprocas”.

É necessário, também, prosseguiu, “um sério e constante discernimento para reconhecer aquilo que vem do Senhor e aquilo que lhe é contrário”. E continuou: “Sem o discernimento, acompanhado da oração e da reflexão, a vida consagrada corre o perigo de adequar-se aos critérios deste mundo: o individualismo, o consumismo, o materialismo; critérios que prejudicam a fraternidade e fazem perder seu fascínio e penetração à própria vida consagrada”.

“Bento XVI ressaltou que a missão faz parte da própria identidade da vida dos consagrados, que são chamados “a levar o Evangelho a todos: “Podem ir, portanto, e na fidelidade criativa assumam o desafio da nova evangelização. Renovem a presença de vocês nos areópagos de hoje para anunciar, como fez São Paulo em Atenas, o Deus ‘desconhecido’”.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Discurso do Papa aos bispos do Regional Nordeste 5


Amados Irmãos no Episcopado,


"Para vós, graça e paz da parte de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo" (2 Cor 1, 2). Desejo antes de mais nada agradecer a Deus pelo vosso zelo e dedicação a Cristo e à sua Igreja que cresce no Regional Nordeste 5. Lendo os vossos relatórios, pude dar-me conta dos problemas de caráter religioso e pastoral, além de humano e social, com que deveis medir-vos diariamente. O quadro geral tem as suas sombras, mas tem também sinais de esperança, como Dom Xavier Gilles acaba de referir na saudação que me dirigiu, dando livre curso aos sentimentos de todos vós e do vosso povo.

Como sabeis, nos sucessivos encontros com os diversos Regionais da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, tenho sublinhado diferentes âmbitos e respectivos agentes do multiforme serviço evangelizador e pastoral da Igreja na vossa grande Nação; hoje, gostaria de falar-vos de como a Igreja, na sua missão de fecundar e fermentar a sociedade humana com o Evangelho, ensina ao homem a sua dignidade de filho de Deus e a sua vocação à união com todos os homens, das quais decorrem as exigências da justiça e da paz social, conforme à sabedoria divina.

Entretanto, o dever imediato de trabalhar por uma ordem social justa é próprio dos fiéis leigos, que, como cidadãos livres e responsáveis, se empenham em contribuir para a reta configuração da vida social, no respeito da sua legítima autonomia e da ordem moral natural (cf. Deus caritas est, 29). O vosso dever como Bispos junto com o vosso clero é mediato, enquanto vos compete contribuir para a purificação da razão e o despertar das forças morais necessárias para a construção de uma sociedade justa e fraterna. Quando, porém, os direitos fundamentais da pessoa ou a salvação das almas o exigirem, os pastores têm o grave dever de emitir um juízo moral, mesmo em matérias políticas (cf. Gaudium et Spes, 76).

Ao formular esses juízos, os pastores devem levar em conta o valor absoluto daqueles preceitos morais negativos que declaram moralmente inaceitável a escolha de uma determinada ação intrinsecamente má e incompatível com a dignidade da pessoa; tal escolha não pode ser resgatada pela bondade de qualquer fim, intenção, conseqüência ou circunstância. Portanto, seria totalmente falsa e ilusória qualquer defesa dos direitos humanos políticos, econômicos e sociais que não compreendesse a enérgica defesa do direito à vida desde a concepção até a morte natural (cf. Christifideles laici, 38). Além disso, no quadro do empenho pelos mais fracos e os mais indefesos, quem é mais inerme que um nascituro ou um doente em estado vegetativo ou terminal? Quando os projetos políticos contemplam, aberta ou veladamente, a descriminalização do aborto ou da eutanásia, o ideal democrático – que só é verdadeiramente tal quando reconhece e tutela a dignidade de toda a pessoa humana – é atraiçoado nas suas bases (cf. Evangelium vitæ, 74). Portanto, caros Irmãos no episcopado, ao defender a vida "não devemos temer a oposição e a impopularidade, recusando qualquer compromisso e ambiguidade que nos conformem com a mentalidade deste mundo" (ibidem, 82).

Além disso, para melhor ajudar os leigos a viverem o seu empenho cristão e sócio-político de um modo unitário e coerente, é "necessária — como vos disse em Aparecida — uma catequese social e uma adequada formação na doutrina social da Igreja, sendo muito útil para isso o 'Compêndio da Doutrina Social da Igreja'" (Discurso inaugural da V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe, 3). Isto significa também que, em determinadas ocasiões, os pastores devem mesmo lembrar a todos os cidadãos o direito, que é também um dever, de usar livremente o próprio voto para a promoção do bem comum (cf. GS, 75).

Neste ponto, política e fé se tocam. A fé tem, sem dúvida, a sua natureza específica de encontro com o Deus vivo que abre novos horizontes muito para além do âmbito próprio da razão. "Com efeito, sem a correção oferecida pela religião até a razão pode tornar-se vítima de ambiguidades, como acontece quando ela é manipulada pela ideologia, ou então aplicada de uma maneira parcial, sem ter em consideração plenamente a dignidade da pessoa humana" (Viagem Apostólica ao Reino Unido, Encontro com as autoridades civis, 17-IX-2010).

Só respeitando, promovendo e ensinando incansavelmente a natureza transcendente da pessoa humana é que uma sociedade pode ser construída. Assim, Deus deve "encontrar lugar também na esfera pública, nomeadamente nas dimensões cultural, social, econômica e particularmente política" (Caritas in veritate, 56). Por isso, amados Irmãos, uno a minha voz à vossa num vivo apelo a favor da educação religiosa, e mais concretamente do ensino confessional e plural da religião, na escola pública do Estado.

Queria ainda recordar que a presença de símbolos religiosos na vida pública é ao mesmo tempo lembrança da transcendência do homem e garantia do seu respeito. Eles têm um valor particular, no caso do Brasil, em que a religião católica é parte integral da sua história. Como não pensar neste momento na imagem de Jesus Cristo com os braços estendidos sobre a baía da Guanabara que representa a hospitalidade e o amor com que o Brasil sempre soube abrir seus braços a homens e mulheres perseguidos e necessitados provenientes de todo o mundo? Foi nessa presença de Jesus na vida brasileira que eles se integraram harmonicamente na sociedade, contribuindo ao enriquecimento da cultura, ao crescimento econômico e ao espírito de solidariedade e liberdade.

Amados Irmãos, confio à Mãe de Deus e nossa, invocada no Brasil sob o título de Nossa Senhora Aparecida, estes anseios da Igreja Católica na Terra de Santa Cruz e de todos os homens de boa vontade em defesa dos valores da vida humana e da sua transcendência, junto com as alegrias e esperanças, as tristezas e angústias dos homens e mulheres da província eclesiástica do Maranhão. A todos coloco sob a Sua materna proteção, e a vós e ao vosso povo concedo a minha Benção Apostólica.


quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Qual a religião de seu super herói preferido?

Fonte: Mutante X

Aproveitando que o Vaticano declarou recentemente que Homer Simpson é um modelo de cristão católico, nosso blox resolveu fazer um levantamento sobre a religião de alguns super-heróis conhecidos.

É bem verdade que o conceito de heroismo sempre esteve intimamente ligado com a religião. Basta estudar mais a fundo a mitologia greco-romana, por exemplo, onde os deuses possuem poderes que os assemelham aos super-heróis conhecidos. Hércules não tem superforça? Mercúrio não é superveloz? Netuno não é o Senhor dos Mares? Qualquer semelhança não é mera coincidência.

Thor era cultuado pelos vikings

A mitologia nórdica também tem seus deuses-heróis que ajudavam e inspiravam os vikings em suas batalhas. É verdade que esses deuses foram adaptados para os quadrinhos e transformados em personagens coloridos, mas muito antes disso acontecer, eles já povoavam o imaginário e a devoção dos povos antigos.

Semelhanças à parte, alguns personagens de quadrinhos também exprimem sua fé. Alguns declaradamente, outros nem tanto, mas deixam pistas que podem nos levar à conclusão de suas crenças. Então, vamos à lista:

Demolidor, Noturno, Hellboy, Hulk e Adaga são católicos

Católicos: Noturno, dos X-Men, entrou no seminário por um período e tentou tornar-se padre. O Demolidor tem uma mãe freira, já foi coroinha quando criança e sempre aparece confessando-se com um padre nas HQs. Hellboy, o pequeno ser filho de um demônio com uma feiticeira, mas de boa índole, também professa o catolicismo e anda sempre com um terço entre as mãos. Adaga, da dupla com Manto, também vivia tomando conselhos com um padre de sua paróquia. O Hulk casou com Betty Ross numa igreja católica e sua versão do universo Ultimate também já foi vista com um terço nas mãos. Outros heróis: Daimon Hellstrom (filho de Satã), Víndix e Aurora (ambos da Tropa Alfa), Justiceiro, Flama (Novos Guerreiros), Demônio Azul (DC), Caçadora (DC), Besouro Azul (DC), Satana e os X-Men Gambit e Banshee. Interessante notar que grande parte dos personagens católicos são representados como demônios ou com aparência demoníaca.

Capitão América, Lanterna Verde e Homem-Aranha são protestantes

Protestantes: Religião predominante nos Estados Unidos, tem vários heróis seguidores. Entre eles, o Capitão América, o Homem-Aranha e o Lanterna Verde. Nenhum deles deu uma prova conclusiva de sua confissão religiosa, mas tudo leva a crer nessa suposição. O Capitão América, pelo fato de representar o estilo de vida americano e o Homem-Aranha, principalmente pelas cenas do seu casamento e da sua Tia May terem sido realizados por um pastor. Outros heróis: Flash, Robin, Homem de Gelo.

Super metodistas

Metodistas: Os principais seguidores desta religião nos quadrinhos pertencem à família Super: Superman, Superboy (Conner Kent) e Supergirl. Criado no interior do Kansas, o jovem Clark Kent teria herdado esta religião de seus pais adotivos e frequentemente foi representado diante de uma dessas igrejas, inclusive na série “Quatro Estações”, onde toma conselhos com um pastor. Outros heróis: Amanda Waller.

Magneto, Lince Negra e Coisa: judeus da Marvel.

Judeus: Magneto é assumidamente judeu, pois foi revelado sua dura infância nos campos de concentração. O Coisa, do Quarteto Fantástico, também já professou essa religião em algumas histórias do grupo. Kitty Pryde, dos X-Men, é outra que pertence a este grupo religioso. Outros heróis: Sasquatch (Tropa Alfa), Coruja (Watchmen) e Dr. Samson.

Motoqueiro Fantasma e Vampira: Batistas

Batistas: Vampira, dos X-Men, já se declarou batista. Além disso, ela provém do sul dos Estados Unidos, uma região predominantemente batista. Outro que acredita-se pertencer a esta religião é o Motoqueiro Fantasma. Outros heróis: Míssil (Novos Mutantes), Vulcão Negro, Falcão e Raio Negro.

Punho de Ferro, Wolverine e Homem-Radioativo são budistas

Budistas: a galera zen dos quadrinhos é formada pelo Punho de Ferro, o Homem-Radioativo e Wolverine. Acredita-se que o Batman, como passou um tempo no Oriente treinando para ter o controle do corpo e da mente, tenha recebido ensinamentos budistas, mas também há provas que ele pertença à religião anglicana (abaixo). Outros: O Sombra, Arqueiro Verde II (Connor Hawke) e Homem-Múltiplo (X-Men).

Anglicanos: Mulher Invisível, Tocha Humana e, possivelmente, Batman

Anglicanos: A Mulher Invisível e seu irmão, o Tocha Humana, pertencem a esta religião. O Batman, como foi dito, recebeu ensinamentos budistas, mas as cruzes presentes nos túmulos de seus familiares são do estilo usado pelos anglicanos, daí a suspeita que o Homem-Morcego pertença a esta religião, embora ele não seja um frequentador ativo. Uma teoria interessante é que ele tenha sido educado nesta religião, mas depois do assassinato de seus pais, tenha desacreditado de tudo e se afastou. Outros heróis: os X-Men Fera, Jean Grey, Psylocke e Anjo também são personagens anglicanos.

Jimmy Olsen, seguidor de Lutero

Luteranos: O principal representante desta religião nos quadrinhos é Jimmy Olsen, parceiro do Superman.

os heróis egípcios: Ísis, Cavaleiro da Lua, Adão Negro, Gavião Negro e Mulher-Gavião

Egípcios: Ísis, Adão Negro, Cavaleiro da Lua, Gavião Negro e Mulher Gavião são heróis que cultuam divindades egípcias.

Representantes da Mitologia: Capitão Marvel, Mulher-Maravilha, Hércules (gregos) e Thor (nórdicos)

Mitológicos: a Mulher-Maravilha, o Capitão Marvel e Hércules são heróis baseados na mitologia greco-romana. Já Thor, Valkíria, Miragem (Novos Mutantes) e Gelo (Liga da Justiça) são heróis que provém da mitologia nórdica.

Os ateus: Lex Luthor, Arqueiro Verde, Vespa e Colossus

Há muitas outras denominações religiosas, mas com poucos personagens representando-as. Há também aqueles que não declaram abertamente sua religião ou são ateus, caso de Lex Luthor, o Vespa, Arqueiro Verde (Oliver Queen) e Colossus (X-Men).

O objetivo deste post não foi enaltecer nenhuma religião em particular, mas sim mostrar que a religiosidade está presente em todos os lugares, até mesmo nos quadrinhos, com toda sua diversidade de crenças.

Saúde, Religião e Espiritualidade

Por: Fábio Fischer de Andrade

“Nem tudo que pode ser mensurado é importante assim como nem tudo que é importante pode ser mensurado” (Albert Einstein).

Qual o papel da religiosidade na vida das pessoas ? E da espirtiualidade ? Juntamente com a política e o futebol, a religião forma a santíssima trindade dos assuntos tabu, aqueles que não devem ser dicutidos em nossa cultura, sob pena de entrarmos em richas, brigas e por aí vai.

A espiritualidade sempre foi considerada por muitos estudiosos como não passível de ser discutida no que diz respeito à ciência. Aliás, muitos cientistas, como o inglês Richard Dawkins, consideram a religião, no mínimo, desnecessária. Para ele, ciência e religião n&at
ilde;o se misturam. Mas esta não é a discussão de hoje. Deixe-me fazer uma pergunta:

Você, leitor, é uma pessoa espiritualizada ?

Se não for, considere a possibilidade de tornar-se. Motivo: as evidências científicas apontam que pessoas que desenvolvem práticas espirituais e/ou religiosas apresentam melhores níveis de saúde e consequentemente uma qualidade de vida superior. É importante apontar que as pesquisas que buscam evidências científicas da influência da espiritualidade na saúde não são novidade, sendo conduzidas no mundo inteiro nos últimos 20 anos ou mais. Basta fazer uma busca simples, utilizando os termos “Espiritualidade + Saúde” no Scielo ou “Spirituality + Health” no PubMed ou mesmo no father Google e amplo material poderá ser acessado.


Estudar a relação entre saúde e espiritualidade não exige que se assuma a crença em Deus ou numa divindade suprema. Especialmente para o profissonal de saúde, é importante saber quão intenso é o impacto das crenças espirituais ou religiosas de uma pessoa e como isso vai influenciar a sua saúde ou a evolução de um quadro patológico, se ela estiver passando por um processo de recuperação (MOREIRA e cols.,2006).


Religião e Saúde estiveram interligados durante séculos. Na idade média, os Cavaleiros Hospitalários, monges guerreiros que comandavam os hospitais em Jerusalém na época das Cruzadas, realizavam as tarefas de um profissional que hoje conhecemos como médico. Instituições mantidas pelo clero eram comuns naquela época, fazendo a dissociação entre fé e cura praticamante impossível. No entanto, aqueles que sofriam de transtornos mentais frequentemente eram tratados como possuídos por forças e espíritos malévolos. No século XV, com a publicação da obra Malleus Maleficarum, estabelecendo as diretrizes e procedimentos para o manejo dos que estivessem “dominados por forças do mal”, milhares de inocentes foram queimados em fogueiras ou decaptados (KOENIG e cols, 2001).


Esta forma violenta de cuidar daqueles que sofriam de doenças mentais marcou profundamente as relações entre religião e saúde ao ponto de, já no século XIX, os profissionais de saúde mental considerassem sua influência como nociva. Freud (1997) era um grande crítico da influência da religião, considerando as idéias religiosas como criações humanas oriundas da necessidade de defesa contra a força esmagadoramente superior da natureza (…) são produtos do desejo do homem. As idéias de Freud contribuiram para reforçar uma idéia que já era difundida no final do século XIX, de que a religião era um estado social primitivo (MOREIRA e cols.,2006). Poucos foram aqueles que tentaram compreender a função psicológica da religião e da espiritualidade, reconhecendo que ambas têm papel importante na vida do homem, fazendo parte de um todo muito maior. Um dos pioneiros da exploração deste campo no século XX foi Jung (1978).


Religião, Espiritualidade, Religiosidade… são tudo a mesma coisa, certo ? Discordo. Algumas definições:
  • ESPIRITUALIDADE: Compreende elementos não mensuráveis, relacionados ao senso de realidade, significado transcendental, seu lugar e propósito no universo. Todos possuem, mesmo que seja nomeada ou definida de forma diferente.
  • RELIGIÃO: Expressão particular de crenças espirituais que envolvem códigos de ética, dooutrinas, dogmas, metáforas e mitos. É uma maneira de perceber o mundo.
  • RELIGIOSIDADE: Nível de envolvimento em uma prática religiosa.

Pensemos a espiritualidade como um destino. A religião seria uma das estradas para este destino. Já a religiosidade seria a intensidade e o grau de compromisso que uma pessoa tem de assumir para utilizar a mesma estrada rumo ao destino.


E o que a ciência diz sobre isso ? As evidências indicam que pessoas que praticam uma religião ou realizam práticas espirituais têm menos chances de adoecer, inclusive com relação aos quadros de transtorno mental. Entre aqueles que se encontram debilitados e/ou internados nos hospitais, os que são religiosos ou espiritualizados têm maior probabilidade de respeitar as orientações dos profissionais de saúde e, por consequência, recuperam-se com maior facilidade de suas enfermidades. Filhos criados em famílias com forte influência religiosa têm menores chances de se envolver em atos anti-sociais, consumo de drogas e demais delitos. Lembram daquela idéia de “corpo como lugar sagrado” ? Pois é, é bem por aí. No artigo de autoria de MOREIRA e colaboradores que cito nas referências existem mais dados sobre as pesquisas que estão sendo feitas tanto no Brasil como nos EUA.


Eu não tenho religião ! Como posso ser espiritualizado ?”


Ok, mas até um ateu pode ter um sentido na vida. Se a sua meta for trabalhar, construir uma carreira, constituir uma família feliz, envelhecer com saúde e no final apenas descansar os ossos num cantinho onde seus descendentes possam prestar homenagens, isso já seria um sentido ao menos razoável para a vida, não ? Penso serem a essas questões que a espiritualidade vem oferecer algumas respostas e orientações.



Referências:

FREUD, Sigmund. Volume XXI: Futuro de uma ilusão. Texto original: 1927. In: FREUD, Sigmund. Edição Eletrônica Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Versão 1.0.0.26. [S.I.]: Imago Editora, 1997. 1 CD-ROM.

JUNG, Carl Gustav. Psicologia e Religião. Tradução: Pe. Dom Mateus Ramalho Rocha, OSB. 2º. ed. Petrópolis: Vozes. 1978.


KOENIG, Harold George; McCULLOUGH, Michael E. ; LARSON, David B. Handbook of Religion and Health. New York: Oxford University Press. 2001. 712p.


MOREIRA-ALMEIDA, Alexander; LOTUFO NETO, Francisco; KOENIG, Harold G. Religiousness and Mental Health: A review. Revista Brasileira de Psiquiatria. [online] São Paulo, v.28, n.3, set.2006.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Pe. Lodi anima eleitores a superarem a tentação do voto nulo


Em um recente artigo sobre as eleições, o conhecido sacerdote pró-vida da diocese de Anápolis, adverte para o perigo de anular o voto ou votar em branco no segundo turno, pois estes votos contribuiriam “para eleger o candidato mais popular” e pede que o eleitor supere esta “tentação”, votando de acordo com a sua consciência.

“Para o eleitor cristão, não é tarefa fácil nem agradável escolher entre dois candidatos maus. A repugnância pelo aborto leva-nos à tentação – à qual devemos resistir – de anular o próprio voto, num gesto de desdém”, afirmou o sacerdote.

“Essa atitude, apesar de trazer alguma satisfação psicológica, acaba por contribuir para o aumento do mal que se quereria evitar. Os votos nulos, assim como os brancos, não são computados (art. 77, §2º, CF). Mas eles acabam contribuindo para eleger o candidato mais popular. Para exemplificar: se dentre 1000 pessoas, nenhuma tiver votado branco ou nulo, todos os votos serão válidos e ganhará o candidato que receber mais de 50% dos votos, ou seja, 501 votos. Mas se dentre essas 1000 pessoas, 50 tiverem votado branco ou nulo, significa que teremos apenas 950 votos válidos. Portanto, o mesmo candidato será eleito se alcançar 476 votos”, destacou o Pe. Lodi.

“Esta é uma hora crítica, em que precisamos imitar a conduta de Deus, que tantas vezes tolera um mal a fim de evitar um mal maior (…), disse o padre recordando que “em vez de arrancar o joio (por causa do perigo de arrancar com ele também o trigo), o Senhor manda deixar que joio e trigo cresçam até a hora da colheita (Mt 13,29). Em seu desejo de salvar tudo o que pode ser salvo, Ele não quebra a cana já rachada nem apaga a mecha que ainda fumega (Mt 12,20)”.

Assim, o sacerdote anima a que “no dia 31 de outubro, antes de entrar na cabine eleitoral, talvez seja conveniente rezar “não nos deixeis cair em tentação (de anular o voto)”.
No dia 3 de outubro de 2010, primeiro turno das eleições, houve 111.193.747 votos para presidente, dos quais 3.479.340 brancos e 6.124.254 nulos.

O sujo e o mal lavado?


O pensamento de muitos é: “Sou católica praticante e gostaria de lembrar aqueles que sentem repulsa pela Dilma por causa do aborto, que o Serra, quando foi ministro da saúde, se posicionou a favor do aborto. Quanto a isso não vejo diferença entre eles, porém a Igreja prega a preferência pelos mais pobres, coisa que não vi no governo do PSDB, mas vi no governo atual.”

“Não acho que a Dilma seja a melhor candidata, entretanto votar em Serra jamais.”

Quando era ministro da saúde, José Serra assinou uma norma tecnica fazendo com que o serviço do aborto fosse oferecido nos hospitais brasileiros a mulheres vítimas de violência sexual. Isso é fato denunciado inclusive pelo falecido padre Léo, da comunidade Canção Nova.

Não proponho que esqueçamos aquilo que fez José Serra no passado, mas que olhemos principalmente para o que querem fazer Dilma e Serra no comando do nosso país. Serra já assinou documento que permitia que mulheres estupradas abortassem em hospitais, mas não defendeu uma ampliação da lei do aborto no Brasil, como já fez a senhora candidata do PT, Dilma Rousseff. Não é, ao mesmo tempo, desconhecido de ninguém o incansável trabalho dos deputados do Partido dos Trabalhadores na defesa da descriminalização do aborto no Brasil. Não é desconhecido de ninguém o 3º Programa Nacional de Direitos Humanos do governo Lula que defendia legalização do aborto, censura à imprensa etc.

O candidato José Serra não milita pela descriminalização do aborto em nosso país. Para ele, a legalização da prática no Brasil liberaria o que ele chamou de carnificina. Posição bem diferente da manifestada por Dilma, que considera o aborto uma “questão de saúde pública”. A candidata já afirmou certa vez que é um absurdo que, no Brasil, ainda não haja descriminalização do aborto.

Serra não é o melhor candidato mais votar em Dilma jamais!