quarta-feira, 4 de agosto de 2010

O idoso na Igreja e na Sociedade

O amor não tem idade

Por: Dom Eurico dos Santos Veloso
Arcebispo Emérito de Juiz de Fora (MG)

O mundo atual tem provocado uma grande inversão de valores. Antigamente, os mais velhos eram mais respeitados porque se acreditava que a sua experiência conferia sabedoria aos demais. Os conselhos, as advertências deles eram de grande valia na solução dos obstáculos que os jovens deveriam enfrentar. Havia mesmo um consenso popular de que se deveriam respeitar os cabelos brancos dos idosos.

Sabemos que idade não confere a ninguém santidade, mas sabemos também que os idosos já sofreram mais decepções, já lutaram, já realizaram alguma coisa que os mais novos estão começando a querer realizar. Além disso, os sofrimentos por que passa uma pessoa que já viveu mais burilam o seu Ser, tornando-a mais capaz de compreender a vida como um todo.

O episódio da pecadora que estava sendo apedrejada nos remete a uma reflexão oriunda de um pequeno detalhe. Quando Jesus adverte de que quem não tiver culpa atire a primeira pedra, o texto fala que todos foram saindo, a começar pelos mais velhos.

Bem, podemos pensar que os mais velhos, por terem vivido mais, erraram mais. Porém, podemos pensar também que os mais velhos, justamente por terem vivido mais, têm maior consciência de suas faltas, por experiência e por terem desenvolvido, através dos anos, maior consciência do que é certo ou errado.

Grande parte ou a maioria das pessoas tem preconceito contra o idoso. Acham que ele é “gagá”, que não fala coisa com coisa, que está desatualizado. Mas se esquecem de que esse velho “gagá” foi quem construiu alguma coisa para que ele, jovem, hoje, tenha condições de vida melhor. Esquece-se também de que os jovens de hoje serão os velhos de amanhã e com menos jovens para cuidar deles.

Na Igreja também sentimos, às vezes, esse preconceito, infelizmente. Alguns preferem ouvir a homilia de um padre jovem e despreza as palavras de um padre idoso. Também alguns leigos idosos são rechaçados no seu trabalho pastoral, pela preferência pelo leigo jovem. É a sociedade influindo negativamente na Igreja.

Precisamos de sangue novo, é certo. Renovar é sempre positivo. Mas precisamos nos lembrar de que o espírito jovem não é privilégio dos moços. Há idosos que têm o coração cheio de amor, de esperança, de otimismo e que podem dar o seu quinhão por uma Igreja cada vez mais anunciadora do Evangelho. E há jovens que questionam tudo, sem encontrar soluções e que não têm nada a acrescentar ao enriquecimento da sociedade. É bom lembrar que existem jovens na idade e velhos na mentalidade; velhos na idade e jovens na mentalidade.

Na verdade, podemos debitar isso a jovens e velhos que, em busca de valores temporais, estão deixando de lado os valores eternos. A sociedade precisa ser revista, analisada novamente e refeita.

O amor não tem idade. Pode florescer e crescer no coração de crianças, de jovens, de adultos, de idosos. Afinal, somos todos Igreja e o respeito ao idoso deve ser uma demonstração de maturidade e de respeito em favor de um reconhecimento da colaboração que os idosos oferecem e podem oferecer à Igreja e ao mundo.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Stallone está certo

Fonte: Diário do Comércio, 28 de julho de 2010

Olavo de Carvalho

A mídia inteira está brabíssima com Sylvester Stallone porque ele disse que no Brasil você pode explodir o país e as pessoas ainda lhe agradecem, dando-lhe de quebra um macaco de presente. Alguns enfezados chegaram até a resmungar que com isso o ator estava nos chamando de macacos – evidenciando claramente que não sentem a diferença entre dar um macaco e ser um macaco.

Da minha parte, garanto que Stallone só pecou por eufemismo. Macaco? Por que só macaco? Exploda o país e os brasileiros lhe dão macaco, tatu, capivara, onça pintada, arara, cacatua, colibri, a fauna nacional inteira, mais um vale-transporte, uma quota no Fome Zero, assistência médica de graça, um ingresso para o próximo show do Caetano Veloso e um pacote de ações da Bolsa de Valores. Exploda o país como o fazem as Farc, treinando assassinos para dizimar a população, e o governo lhe dá cidadania brasileira, emprego público para a sua mulher e imunidade contra investigações constrangedoras. Seqüestre um brasileiro rico e cinco minutos depois os outros ricos estão nas ruas clamando pela libertação – não do seqüestrado, mas do seqüestrador (passado algum tempo, o próprio seqüestrado convida você para um jantar na mansão dele). Crie uma gigantesca organização clandestina, armando com partidos legais uma rede de proteção para organizações criminosas, e a grande mídia lhe dará todas as garantias de discrição e silêncio para que o excelente negócio possa progredir em paz: sobretudo, ninguém, ninguém jamais perguntará quem paga a brincadeira. Tire do lixo o cadáver do comunismo, dando-lhe nova vida em escala continental, e os capitalistas o encherão de dinheiro e até se inscreverão no seu partido, alardeando que você mudou e agora é neoliberal. Crie a maior dívida interna de todos os tempos, e seus próprios credores serão os primeiros a dizer que você restaurou a economia nacional. Encha de dinheiro os invasores de terras, para que eles possam invadir mais terras ainda, e até os donos de terras o aplaudirão porque você “conteve a sanha dos radicais”. Mande abortar milhões de bebês, e os próprios bispos católicos taparão a boca de quem fale mal de você. Mande seu partido acusar as Forças Armadas de todos os crimes possíveis e imagináveis, e os oficiais militares, além de condecorar você, sua esposa e todos os seus cupinchas, ainda votarão em você nas eleições presidenciais. Destrua a carreira de um presidente “direitista” e uns anos depois ele estará trocando beijinhos com você e cavando votos para a sua candidata comunista no interior de Alagoas.

Um macaco? Um desprezível macaquinho? Que é isso, Stallone? Você não sabe de quanta gratidão, de quanta generosidade o brasileiro é capaz, quando você bate nele para valer.

Fora essa ressalva quantitativa, no entanto, a declaração do ator de “Rambo” é a coisa mais verdadeira que alguém disse sobre o Brasil nos últimos anos: este é um país de covardes, que preferem antes bajular os seus agressores do que tomar uma providência para detê-los.

O clássico estudo de Paulo Mercadante, A Consciência Conservadora no Brasil, já expunha a tendência crônica das nossas classes altas, de tudo resolver pela conciliação. Mas a conciliação, quando ultrapassa os limites da razoabilidade e da decência, chega àquele extremo de puxa-saquismo masoquista em que o sujeito se mata só para agradar a quem quer matá-lo.

Curiosamente, muitos dos que se entregam a essa conduta abjeta alegam que o fazem por esperteza, citando a regra de Maquiavel: se você não pode vencer o adversário, deve aderir ao partido dele. Esses cretinos não sabem que, em política prática, Maquiavel foi um pobre coitado, que sempre apostou no lado perdedor e terminou muito mal. A pose de malícia esconde, muitas vezes, uma ingenuidade patética.

As belas mãos de um Padre


Fonte: Sentir com a Igreja

1. Precisamos delas quando a vida começa,
precisamos de novo quando ela acaba;
sentimos nelas a verdadeira amizade,
precisamos delas durantes as tristezas da vida.
2. Quando chegamos a este mundo somos pecadores,
tanto grandes como pequenos.
E as mãos que nos tornam puros como anjos
são as belas mãos de um sacerdote.
3. No altar, a cada dia, contemplamo-nas,
e as mãos de um rei em seu trono
não são iguais a elas em suas grandeza.
Sua dignidade é sem igual.
4. No silêncio da manhã que vem surgindo
antes que o Sol nasça no oriente,
lá Deus repousa entre os puros dedos
das belas mãos de um padre.
5. Quando somos tentados e trilhamos
as vias da vergonha e do pecado
as mãos de um sacerdote nos absolvem.
Não apenas uma vez mas várias.
6. E quando nos unimos em Matrimônio
outras mãos podem preparar a festa.
Mas as mãos que nos abençoa e nos une,
são as belas mãos de um sacerdote.

7. Deus os abençoe e os mantenha todos santos,
pela Hóstia que seus dedos seguram,
o que pode um pobre pecador fazer melhor
do que pedir a Deus que nos dê estes para nos abençoar.
8. Quando o orvalho da morte cair em nossos olhos
que nossa coragem e força possam ser aumentadas
por ver levantadas sobre nós em bênção
as maravilhosas mãos de um sacerdote.

Sinal da Cruz, o Dístico do Cristão.


Neste artigo especial para a Gaudium Press, um de nossos colaboradores, Inácio Almeida, viaja entre os séculos, e aborda a importância do sinal da cruz, mostrando como diversas e importantes figuras históricas se valiam do sinal, o dístico do cristão, em momentos de perigo, de decisão e na iminência da morte, como forma de alcançar a serenidade necessária em momentos cruciais.

Outrora, em Besra na Idumea, ocupava o trono Episcopal São Julião. Este santo tinha uma alma cheia de zelo e piedade, não media esforços para trazer ao redil de Nosso Senhor Jesus Cristo as ovelhas tresmalhadas daquele rebanho.

Entretanto, alguns influentes habitantes desta cidade, descontentes com o progresso da fé, tomaram a resolução de envenenar este santo homem de Deus. Para isto, subornaram o próprio criado do Bispo. O infeliz aceitou e recebeu deles a bebida envenenada. Divinamente de tudo avisado, o Santo diz ao criado:

“-Vai, e da minha parte, convida para o meu jantar de hoje os principais habitantes da cidade”.

São Julião bem sabia que entre eles estariam os culpados. Todos acedem ao convite. Num dado momento, o Santo Bispo sem acusar ninguém, lhes diz com doçura evangélica:

“-Visto quererem envenenar o humilde Julião, eis que diante de vós passo a beber o veneno”.

Fez então três vezes o Sinal da Cruz sobre a taça, dizendo: “Eu te bebo em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo”.

Em seguida, bebeu o veneno até a última gota e, ó milagre Divino, São Julião não sentiu o menor mal. Seus inimigos, diante de tal prodígio, caíram de joelhos a seus pés e lhe pediram perdão.

De onde vem a força deste simples gesto? Qual a sua origem? Em que momentos devemos fazê-lo?

Este Sinal Divino, sempre foi considerado como um mestre sábio e conciso, pois resume em si, de modo simples e didático, os dois principais mistérios de nossa fé que são a Unidade e Trindade de Deus e a Encarnação, Paixão e Morte de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Entretanto, nos dias de hoje, poucos são os que conhecem tudo o que contém, tudo o que ensina, tudo o que opera de sublime, de santo e de divino, e em conseqüência, de soberanamente proveitoso às almas, esta fórmula tão antiga como a Igreja. Os primeiros cristãos faziam o Sinal da Cruz a cada instante. Assim afirma São Basílio: “Para os que põem sua esperança em Jesus Cristo, fazer o Sinal da Cruz é a primeira e mais conhecida coisa que entre nós se pratica”.

Vejamos o exemplo de Santa Tecla, ilustre por nascimento, mais ainda ilustre pela fé:

“Agarrada pelos algozes, é conduzida à fogueira, faz o Sinal da Cruz, entra nela a passo firme e fica tranqüila no meio das chamas”.

Imediatamente cai do céu uma torrente de água, e o fogo é apagado. E a jovem heroína sai da fogueira sem ter queimado um só fio de cabelo. À maneira desta mártir que ao caminhar para o último suplício não deixava de se fortalecer pelo Sinal da Cruz, os verdadeiros Cristãos dos séculos passados recorriam sempre a este sinal consolador para suavizar suas dores e santificar sua morte.

Façamos um rápido passeio pelos séculos e paremos um instante em Aix la Chapelle para assistir à morte do grande imperador:

“… No dia seguinte, logo ao amanhecer, Carlos Magno estando bem consciente do que devia fazer, estendeu a mão direita e enquanto pôde, fez o Sinal da Cruz na fronte, no peito e no restante do corpo.”

Voemos à bela França do século XIII para darmos a palavra ao Príncipe de Joinville, biógrafo e amigo de São Luís IX:

“-À mesa, no conselho, no combate, em todas as suas ações, o rei começava sempre pelo Sinal da Cruz”.

Agora estamos diante de Bayard, o cavaleiro sem medo e sem mácula. Vemo-lo ferido de morte, deitado à sombra de um grande carvalho fazendo o seu último gesto que foi um grande Sinal da Cruz feito com sua própria espada.

Em 1571, D. João D’Áustria, antes de dar o sinal de ataque na Batalha de Lepanto em que se decidia o futuro da cristandade, fez um grande e lento Sinal da Cruz repetido por todos os seus capitães e a vitória logo se fez esperar. Por estes e outros exemplos, vemos quão poderosa oração é o Sinal da Cruz. De quantas graças nos enriquece ele, e de quantos perigos preserva nossa frágil existência.

Quando devemos fazer o Sinal da Cruz

Mas… Quando devemos fazer o Sinal da Cruz? Tertuliano nos responde:

“A cada movimento e a cada passo, ao entrar e ao sair de casa, ao acender as luzes, estando para comer, ao deitar e ao levantar, qualquer que seja o ato que pratiquemos ou o lugar para onde vamos, sempre marcamos nossa fronte com o Sinal da Cruz.”

E de todas as práticas litúrgicas, o Sinal da Cruz é a principal, a mais comum, a mais familiar. É a alma das orações e das bênçãos. A Santa Igreja em suas cerimônias, em nenhuma delas deixa de empregá-lo. Começa, continua, e tudo termina por este sinal. Ao destinar para o seu próprio uso a água, o cálice, o altar e também aquilo que pertence aos seus filhos como as habitações, os campos, os rebanhos. De tudo toma posse pelo Sinal da Cruz.

A primeira coisa que faz sobre o corpo da criança ao sair do seio materno, e a última, quando já na ancianidade, o entrega às entranhas da Terra, é ainda este Divino Sinal. O que dizer da Santa Missa que é a ação por excelência? A Esposa de Cristo mais do que nunca o multiplica… O sacerdote, no decurso da celebração, ao abrir os braços imitando o Divino crucificado, não é o seu corpo o próprio Sinal da Cruz vivo? Também diante das tentações, nós devemos fazer uso deste sinal libertador. Ouçamos o que nos diz Orígenes:

“É tal a força do Sinal da Cruz, que se o colocardes diante dos olhos e o guardares no coração, não haverá concupiscência, voluptuosidade ou furor que possa resistir-lhe. À vista dele desaparece todo o pecado.”

E ao findar o dia, se a fadiga e os fracassos da jornada levarem a vossa alma para o desânimo ou até o desespero. Ouçamos o que nos aconselha o sábio Prudêncio: “Quando ao convite do sono, deitares em teu casto leito, fazeis o Sinal da Cruz sobre a fronte e sobre o coração, a cruz te preservará de todo o pecado. Santificada por este Sinal, a tua alma não vacilará”.

Mas para alcançarmos tão preciosos benefícios, é mister que façamos o Sinal da Cruz bem feito e com firmeza. A devoção, a confiança, o respeito e a regularidade devem acompanhar o movimento de nossa mão.

Meditando nas palavras pronunciadas, devemos pensar em Deus Padre, Deus Filho e no Espírito Santo. Além disto, tocando com a mão direita no centro da testa, devemos ter a intenção de consagrar ao Senhor a nossa inteligência, os nossos pensamentos; tocando o peito, consagrar-lhe o nosso coração, os nossos afetos e tocando os ombros, todas as nossas obras.

Porém não permitamos que o respeito humano nos impeça de manifestar pública e abertamente o Sinal da Cruz, pois se hoje uma grande parcela de nossa sociedade está afundada na impiedade e no materialismo, a necessidade que temos de fazer uso deste augusto Sinal é cada vez maior. Este estandarte divino que salvou o mundo é dotado de força para salvá-lo ainda. E, fazendo eco as palavras dos padres e doutores da igreja, concluímos:

Salve ó Sinal da Cruz! Estandarte do grande Rei, troféu imortal do Senhor, Sinal de vida, salvação e benção. És nossa poderosa guarda que em vista dos pobres é de graça e por causa dos fracos não exige esforço. És a tácita evocação de Jesus crucificado, monumento da vitória do Divino Redentor. Teus efeitos são largos como o universo, duradouros como os séculos. Tua eloquência dissipa as trevas, aclara os caminhos. És a honra da fronte, a glória dos mártires, a esperança dos cristãos. És enfim, o fundamento da Igreja.

Principais fontes: O Sinal da Cruz de Monsenhor Gaume; Catecismo da Igreja Católica; e o Dicionário de Liturgia.