quarta-feira, 21 de julho de 2010

Discurso de Bento XVI aos bispos dos Regionais Nordeste 1 e 4


Caríssimos Irmãos no Episcopado,

Sede bem-vindos! Com grande satisfação acolho-vos nesta casa e de todo coração desejo que a vossa visita ad Limina proporcione o conforto e o encorajamento

que esperais. Agradeço a amável saudação que acabais de dirigir-me pela boca de Dom José, Arcebispo de Fortaleza, testemunhando os sentimentos de afeto e comunhão que unem vossas Igrejas particulares à Sé de Roma e a determinação com que abraçastes o urgente compromisso da missão para reacender a luz e a graça de Cristo nas sendas da vida do vosso povo.

Queria falar-vos hoje da primeira dessas sendas: a família assentada no matrimônio, como «aliança conjugal na qual o homem e a mulher se dão e se recebem» (cf. Gaudium et spes, 48). Instituição natural confirmada pela lei divina, está ordenada ao bem dos cônjuges e à procriação e educação da prole, que constitui a sua coroa (cf. ibid., 48). Pondo em questão tudo isto, há forças e vozes na sociedade atual que parecem apostadas em demolir o berço natural da vida humana. Os vossos relatórios e os nossos colóquios individuais tocavam repetidamente esta situação de assédio à família, com a vida saindo derrotada em numerosas batalhas; porém é alentador perceber que, apesar de todas as influências negativas, o povo de vossos Regionais Nordeste 1 e 4, sustentado por sua característica piedade religiosa e por um profundo sentido de solidariedade fraterna, continua aberto ao Evangelho da Vida.

Sabendo nós que somente de Deus pode provir aquela imagem e semelhança que é própria do ser humano (cf. Gen 1, 27), tal como aconteceu na criação – a geração é a continuação da criação –, convosco e vossos fiéis «dobro os joelhos diante do Pai, de quem recebe o nome toda paternidade no céu e na terra, [para] que por sua graça, segundo a riqueza da sua glória, sejais robustecidos por meio do seu Espírito, quanto ao homem interior» (Ef 3, 14-16). Que em cada lar o pai e a mãe, intimamente robustecidos pela força do Espírito Santo, continuem unidos a ser a bênção de Deus na própria família, buscando a eternidade do seu amor nas fontes da graça confiadas à Igreja, que é «um povo unido pela unidade do Pai e do Filho e do Espírito Santo» (Lumen gentium, 4).

Mas, enquanto a Igreja compara a família humana com a vida da Santíssima Trindade – primeira unidade de vida na pluralidade das pessoas – e não se cansa de ensinar que a família tem o seu fundamento no matrimônio e no plano de Deus, a consciência difusa no mundo secularizado vive na incerteza mais profunda a tal respeito, especialmente desde que as sociedades ocidentais legalizaram o divórcio. O único fundamento reconhecido parece ser o sentimento ou a subjetividade individual que exprime-se na vontade de conviver. Nesta situação, diminui o número de matrimônios, porque ninguém compromete a vida sobre uma premissa tão frágil e inconstante, crescem as uniões de fato e aumentam os divórcios. Sobre esta fragilidade, consuma-se o drama de tantas crianças privadas de apoio dos pais, vítimas do mal-estar e do abandono e expande-se a desordem social.

A Igreja não pode ficar indiferente diante da separação dos cônjuges e do divórcio, diante da ruína dos lares e das conseqüências criadas pelo divórcio nos filhos. Estes, para ser instruídos e educados, precisam de referências extremamente precisas e concretas, isto é, de pais determinados e certos que de modo diverso concorrem para a sua educação. Ora é este princípio que a prática do divórcio está minando e comprometendo com a chamada família alargada e móvel, que multiplica os «pais» e as «mães» e faz com que hoje a maioria dos que se sentem «órfãos» não sejam filhos sem pais, mas filhos que os têm em excesso. Esta situação, com as inevitáveis interferências e cruzamento de relações, não pode deixar de gerar conflitos e confusões internas contribuindo para criar e gravar nos filhos uma tipologia alterada de família, assimilável de algum modo à própria convivência por causa da sua precariedade.

É firme convicção da Igreja que os problemas atuais, que encontram os casais e debilitam a sua união, têm a sua verdadeira solução num regresso à solidez da família cristã, lugar de confiança mútua, de dom recíproco, de respeito da liberdade e de educação para a vida social. É importante recordar que, «pela sua própria natureza, o amor dos esposos exige a unidade e a indissolubilidade da sua comunidade de pessoas, a qual engloba toda a sua vida» (Catecismo da Igreja Católica, 1644). De fato, Jesus disse claramente: «O que Deus uniu, o homem não separe» (Mc 10, 9), e acrescenta: «Quem despede a sua mulher e se casa com outra, comete adultério contra a primeira. E se uma mulher despede o seu marido e se casa com outro, comete adultério também» (Mc 10, 11-12). Com toda a compreensão que a Igreja possa sentir face a tais situações, não existem casais de segunda união, como os há de primeira; aquela é uma situação irregular e perigosa, que é necessário resolver, na fidelidade a Cristo, encontrando com a ajuda de um sacerdote um caminho possível para pôr a salvo quantos nela estão implicados.

Para ajudar as famílias, vos exorto a propor-lhes, com convicção, as virtudes da Sagrada Família: a oração, pedra angular de todo lar fiel à sua própria identidade e missão; a laboriosidade, eixo de todo matrimônio maduro e responsável; o silêncio, cimento de toda a atividade livre e eficaz. Desse modo, encorajo os vossos sacerdotes e os centros pastorais das vossas dioceses a acompanhar as famílias, para que não sejam iludidas e seduzidas por certos estilos de vida relativistas, que as produções cinematográficas e televisivas e outros meios de informação promovem. Tenho confiança no testemunho daqueles lares que tiram as suas energias do sacramento do matrimônio; com elas torna-se possível superar a prova que sobrevém, saber perdoar uma ofensa, acolher um filho que sofre, iluminar a vida do outro, mesmo fraco ou diminuído, mediante a beleza do amor. É a partir de tais famílias que se há de restabelecer o tecido da sociedade.

Estes são, caríssimos Irmãos, alguns pensamentos que deixo-vos ao concluirdes a vossa visita ad Limina, rica de notícias consoladoras mas também carregada de trepidação pela fisionomia que no futuro possa adquirir a vossa amada Nação. Trabalhai com inteligência e com zelo; não poupeis fadigas na preparação de comunidades ativas e cientes da própria fé. Nestas se consolidará a fisionomia da população nordestina segundo o exemplo da Sagrada Família de Nazaré. Tais são os meus votos que corroboro com a Bênção Apostólica que concedo a todos vós, extensiva às famílias cristãs e diversas comunidades eclesiais com seus pastores e todos os fiéis das vossas diletas dioceses.

Discurso do Papa Bento XVI
aos Prelados da Conferência Episcopal
dos Bispos do Brasil do Regional Nordeste 1 e 4
em visita «Ad Limina Apostolorum»
Palácio Apostólico de Castel Gandolfo

Debate com presidenciáveis terá temas de interesse católico Participação de Dilma Rousseff (PT) ainda é incerta



.- Em pouco mais de um mês acontecerá o 1º debate com os candidatos à Presidência da República, organizado pela Rede Aparecida e pela TV Canção Nova. A iniciativa, que contará com retransmissão de outras emissoras, bem como de outros meios, como rádio e internet, tratará de temas de interesse do telespectador católico, como a discussão do aborto e o uso de células-tronco.

“O ser humano é completo. Os assuntos religiosos são essenciais, necessários. Mas, não podemos nos esquecer do dia-a-dia do eleitor. São pessoas que convivem com realidades distintas e que também dependem de hospital, de vias públicas, de emprego”, afirma Luiz Eduardo Novaes da Rede Aparecida, responsável pela produção do debate.
De acordo com as regras aprovadas, os assuntos serão sorteados no primeiro e último bloco.

No segundo, haverá participação de jornalistas convidados e, no terceiro, ocorrem perguntas de pastorais e movimentos ligados à CNBB. O debate da Rede Aparecida e TV Canção Nova acontece ao vivo no dia 23 de agosto, às 22h.

Três candidatos à presidência estão confirmados para debate na Rede Aparecida e TV Canção Nova.
José Serra (PSDB), Marina Silva (PV) e Plínio Arruda (PSOL) confirmaram presença no 1º debate entre os presidenciáveis da Rede Aparecida e TV Canção Nova.

A informação foi dada à produção do programa, por meio da assessoria dos candidatos.
A participação da candidata Dilma Rousseff (PT) ainda é incerta. Desde o início do mês, há declarações de sua equipe à mídia afirmando que Dilma participaria apenas de quatro debates em emissoras de televisão.

Embora exista a dúvida, o blog da candidata traz a reprodução de uma notícia do debate, inclusive com a informação de que ela também estaria confirmada para participar. De acordo com a lei eleitoral, apenas partidos que tenham cadeira na Câmara dos Deputados têm direito a participar dos debates das TVs. Assim, apenas quatro candidatos se encaixam nessa definição: Dilma Rousseff, José Serra, Marina Silva e Plínio Arruda.

Concorrem à presidência também: José Maria Eymael (PSDC), Zé Maria (PSTU); Levy Fidelix (PRTB), Ivan Pinheiro (PCB) e Rui Costa Pimenta (PCO).
O Debate da Rede Aparecida e TV Canção Nova acontece ao vivo no dia 23 de agosto, às 22h.

Para mais informação visite o blog da Sala de Imprensa do Santuário Nacional em: http://www.santuarionacional.com/imprensa/blog/

Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus


Com esta frase Jesus definiu bem a autonomia e o respeito, que deve haver entre a política (César) e a religião (Deus). Por isto a Igreja não se posiciona nem faz campanha a favor de nenhum partido ou candidato, mas faz parte da sua missão zelar para que o que é de “Deus” não seja manipulado ou usurpado por “César” e vice-versa.

Quando acontece essa usurpação ou manipulação é dever da Igreja intervir convidando a não votar em partido ou candidato que torne perigosa a liberdade religiosa e de consciência ou desrespeito à vida humana e aos valores da família, pois tudo isso é de Deus e não de César. Vice-versa extrapola da missão da Igreja querer dominar ou substituir-se ao estado, pois neste caso ela estaria usurpando o que é de César e não de Deus.

Já na campanha eleitoral de 1996, denunciei um candidato que ofendeu pública e comprovadamente a Igreja, pois esta atitude foi uma usurpação por parte de César daquilo que é de Deus, ou seja o respeito à liberdade religiosa.

Na atual conjuntura política o Partido dos Trabalhadores (PT) através de seu IIIº e IVº Congressos Nacionais (2007 e 2010 respectivamente), ratificando o 3º Plano Nacional de Direitos Humanos (PNDH3) através da punição dos deputados Luiz Bassuma e Henrique Afonso, por serem defensores da vida, se posicionou pública e abertamente a favor da legalização do aborto, contra os valores da família e contra a liberdade de consciência.

Na condição de Bispo Diocesano, como responsável pela defesa da fé, da moral e dos princípios fundamentais da lei natural que - por serem naturais procedem do próprio Deus e por isso atingem a todos os homens -, denunciamos e condenamos como contrárias às leis de Deus todas as formas de atentado contra a vida, dom de Deus,como o suicídio, o homicídio assim como o aborto pelo qual, criminosa e covardemente, tira-se a vida de um ser humano, completamente incapaz de se defender. A liberação do aborto que vem sendo discutida e aprovada por alguns políticos não pode ser aceita por quem se diz cristão ou católico. Já afirmamos muitas vezes e agora repetimos: não temos partido político, mas não podemos deixar de condenar a legalização do aborto. (confira-se Ex. 20,13; MT 5,21).

Isto posto, recomendamos a todos verdadeiros cristãos e verdadeiros católicos a que não dêem seu voto à Senhora Dilma Rousseff e demais candidatos que aprovam tais “liberações”, independentemente do partido a que pertençam.

Evangelizar é nossa responsabilidade, o que implica anunciar a verdade e denunciar o erro, procurando, dentro desses princípios, o melhor para o Brasil e nossos irmãos brasileiros e não é contrariando o Evangelho que podemos contar com as bênçãos de Deus e proteção de nossa Mãe e Padroeira, a Imaculada Conceição.

Dom Luiz Gonzaga Bergonzini

A punição sem educação

Por Wilmar Marçal

Em outras épocas, quando educar era construir cidadania, a falha, o erro e as atitudes erradas, especialmente numa criança, eram corrigidas com a punição da palmada. O tempo passou, a população aumentou e os costumes mudaram. E como mudaram! Porém, cada pai e cada mãe sabem muito bem educar seus filhos. O estado não precisa interferir, exceto em situações onde as crianças correm riscos. Mas isso são outros quinhentos, como diziam nossos queridos antepassados.
O foco atualmente é debater outra situação, muito comum nas cidades hoje em dia, sobretudo nas grandes cidades, como é, por exemplo, o caso de Curitiba e região metropolitana. É preciso discutir e encontrar melhores soluções para uma situação muitas vezes injusta: a indústria das multas de transito. O que se percebe nos dias atuais é uma voraz intenção premeditada de punir, punir e punir. Porém punir com a força da arrecadação. Há centenas de radares na capital paranaense com o propósito evidente de arrecadar. Isso mesmo: arrecadar. Nada de educativo. Os “entendidos” em sistema viário só enxergam os ponteiros das cifras. Não são capazes de aceitar que há situações de risco, onde muitas vezes se acelera para fugir de perigos e assaltos. Não propagam campanhas educativas em localidades vulneráveis. Não divulgam ações que possam envolver as comunidades em mutirões de aprendizado. Só querem as faturas pagas e o dinheiro em caixa. Os “especialistas” do trânsito, muitas vezes com canetas pesadas, mas nenhuma experiência técnica, só elaboram as planilhas das previsões de arrecadação. Nada de prevenção. Esquecem ou fingem que não sabem que a cidade cresceu, o número de veículos muito mais ainda e que a geometria das ruas e avenidas são as mesmas. É um fluxo exagerado em locais estáticos. Não há milagres. Faltam consciência e paciência de nossos gestores. Acham que punir com multas vai melhorar a educação no transito. Ora, ledo engano. O próprio nome já diz: educação significa educar com ação. Enquanto tivermos as intenções obscuras das vultosas quantias nos cofres, originadas pelas incontáveis multas, sobretudo em épocas de eleições, não teremos sucesso em melhorias. Se ainda persistir essa demanda maldita de recolher, vamos reagir e também formar um mutirão do esclarecimento. Vamos recolher também. Recolher informações tais como: para onde vai todo esse dinheiro originado das multas? É bem possível que uma auditoria séria nas arrecadações e circunstâncias que as mesmas são elaboradas possam responder a essa e tantas outras perguntas e dúvidas. A população deve se unir sim, cobrar dos representantes o destino dessa sangrenta e contundente mania de punir pelo bolso. Educação e bom-senso são fundamentais e nós gostamos. Honestidade com o dinheiro público, mais ainda.

domingo, 18 de julho de 2010

Carta de um Padre



Carta escrita pelo Padre Martín Lasarte, salesiano do Uruguai, em resposta aos ataques do The NY Times à Igreja.

Querido irmão e irmã jornalista: sou um simples sacerdote católico. Sinto-me orgulhoso e feliz com a minha vocação. Há vinte anos vivo em Angola como missionário. Sinto grande dor pelo profundo mal que pessoas, que deveriam ser sinais do amor de Deus, sejam um punhal na vida de inocentes. Não há palavras que justifiquem estes atos. Não há dúvida de que a Igreja só pode estar do lado dos mais frágeis, dos mais indefesos. Portanto, todas as medidas que sejam tomadas para a proteção e prevenção da dignidade das crianças será sempre uma prioridade absoluta.

Vejo em muitos meios de informação, sobretudo em vosso jornal, a ampliação do tema de forma excitante, investigando detalhadamente a vida de algum sacerdote pedófilo. Assim aparece um de uma cidade dos Estados Unidos, da década de 70, outro na Austrália dos anos 80 e assim por diante, outros casos mais recentes...

Certamente, tudo condenável! Algumas matérias jornalísticas são ponderadas e equilibradas, outras exageradas, cheias de preconceitos e até ódio.

É curiosa a pouca notícia e desinteresse por milhares de sacerdotes que consomem a sua vida no serviço de milhões de crianças, de adolescentes e dos mais desfavorecidos pelos quatro cantos do mundo!

Penso que ao vosso meio de informação não interessa que eu precisei transportar, por caminhos minados, em 2002, muitas crianças desnutridas de Cangumbe a Lwena (Angola), pois nem o governo se dispunha a isso e as ONGs não estavam autorizadas; que tive que enterrar dezenas de pequenos mortos entre os deslocados de guerra e os que retornaram; que tenhamos salvo a vida de milhares de pessoas no Moxico com apenas um único posto médico em 90.000 km2, assim como com a distribuição de alimentos e sementes; que tenhamos dado a oportunidade de educação nestes 10 anos e escolas para mais de 110.000 crianças...

Não é do interesse que, com outros sacerdotes, tivemos que socorrer a crise humanitária de cerca de 15.000 pessoas nos aquartelamentos da guerrilha, depois de sua rendição, porque os alimentos do Governo e da ONU não estavam chegando ao seu destino.

Não é notícia que um sacerdote de 75 anos, o padre Roberto, percorra, à noite, a cidade de Luanda curando os meninos de rua, levando-os a uma casa de acolhida, para que se desintoxiquem da gasolina, que alfabetize centenas de presos; que outros sacerdotes, como o padre Stefano, tenham casas de passagem para os menores que sofrem maus tratos e até violências e que procuram um refúgio.

Tampouco que Frei Maiato com seus 80 anos, passe casa por casa confortando os doentes e desesperados.

Não é notícia que mais de 60.000 dos 400.000 sacerdotes e religiosos tenham deixado sua terra natal e sua família para servir os seus irmãos em um leprosário, em hospitais, campos de refugiados, orfanatos para crianças acusadas de feiticeiros ou órfãos de pais que morreram de Aids, em escolas para os mais pobres, em centros de formação profissional, em centros de atenção a soropositivos... ou, sobretudo, em paróquias e missões dando motivações às pessoas para viver e amar.

Não é notícia que meu amigo, o padre Marcos Aurelio, por salvar jovens durante a guerra de Angola, os tenha transportado de Kalulo a Dondo, e ao voltar à sua missão tenha sido metralhado no caminho; que o irmão Francisco, com cinco senhoras catequistas, tenham morrido em um acidente na estrada quando iam prestar ajuda nas áreas rurais mais recônditas; que dezenas de missionários em Angola tenham morrido de uma simples malária por falta de atendimento médico; que outros tenham saltado pelos ares por causa de uma mina, ao visitarem o seu pessoal. No cemitério de Kalulo estão os túmulos dos primeiros sacerdotes que chegaram à região... Nenhum passa dos 40 anos.

Não é notícia acompanhar a vida de um Sacerdote “normal” em seu dia a dia, em suas dificuldades e alegrias consumindo sem barulho a sua vida a favor da comunidade que serve. A verdade é que não procuramos ser notícia, mas simplesmente levar a Boa-Notícia, essa notícia que sem estardalhaço começou na noite da Páscoa. Uma árvore que cai faz mais barulho do que uma floresta que cresce.

Não pretendo fazer uma apologia da Igreja e dos sacerdotes. O sacerdote não é nem um herói nem um neurótico. É um homem simples, que com sua humanidade busca seguir Jesus e servir os seus irmãos. Há misérias, pobrezas e fragilidades como em cada ser humano; e também beleza e bondade como em cada criatura...

Insistir de forma obsessiva e perseguidora em um tema perdendo a visão de conjunto cria verdadeiramente caricaturas ofensivas do sacerdócio católico na qual me sinto ofendido.

Só lhe peço, amigo jornalista, que busque a Verdade, o Bem e a Beleza.

Isso o fará nobre em sua profissão.

Em Cristo,
Pe. Martín Lasarte, SDB

Ato médico - coisa de país subdesenvolvido


Infelizmente a categoria dos médicos está investindo pesado na aprovação da lei que regulamenta o ATO MÉDICO. Nesta proposta que já passou pela Câmara dos Deputados, prevê que todo o controle da saúde no Brasil deve ficar na mão dos médicos. Se um administrador hospitalar ( especialidade da administração), estiver à frente administrativa de um hospital, com a lei, isto será impossível, pois só poderá ser um médico. Outro caso que qualificará esta lei como abuso de poder nos procedimentos em saúde , é quando um pai desejar fazer a avaliação psicológica do filho, precisará ter a prescrição médica, isto já acontece no plano de saúde da UNIMED, os Psicólogos credenciados só podem atender se houver prescrição de um Médico (tudo bem que a UNIMED é deles), mas a saúde é de todos.

Como a saúde é uma área que só existe na relação interdisciplinar, com diferentes profissionais e especialidades - tipo: Nutricionistas; Fonoaudiólogos; Fisioterapeutas; Assistentes Sociais; Psicólogos; Dentistas; etc… , o ato médico trás a antiga idéia que saúde é coisa para médicos. Os poucos países onde esta lei foi aplicada, são subdesenvolvidos. Por isto que esta proposta é coisa de mentes subdesenvolvidas, de uma categoria que deseja fazer o controle na fatia financeira da saúde. Muitos amigos pessoais que são médicos, dizem que são contra esta lei, mas se omitem e permitem que o Conselho de Medicina fortaleça esta proposta politicamente. Tenho relatos de médicos que não falam sobre o tema com medo de sofrerem retaliação pelo sistema conselho de medicina. Coisa de mentes pequenas.

Como realmente estamos em um país subdesenvolvido, cujo semi-analfabetismo atinge 70 % da população, vejo que será muito difícil o ATO MÉDICO não virar lei de fato.

MAS, ENQUANTO ISSO, VAMOS ESPERAR O BRASIL SER CAMPEÃO MUNDIAL DE FUTEBOL EM 2014

O Cristão na Política



Por Aleksandro Clemente

Muitos cristãos não gostam de Política. Para eles, “política e religião não combinam”. No entanto, essa aversão à política não se coaduna com a fé cristã nem com o exercício da cidadania. Quando o cristão se afasta do cenário político, além de renunciar aos seus direitos de cidadão, favorece aqueles que, sob o argumento do “estado laico”, querem afastar os religiosos das decisões mais importantes para o País, como na discussão do Projeto de Lei 1.135/91, que visa legalizar o aborto no Brasil, e no debate em torno do 3ª Plano Nacional de Direitos Humanos do Governo Federal.

Inúmeras vezes o Papa Bento XVI exortou os católicos a assumirem o seu papel na política. Ao discursar para a plenária do Pontifício Conselho para os Leigos, Bento XVI reiterou a necessidade e a urgência da formação de uma nova geração de católicos, mais engajada na política. Para o Papa, “a política é um âmbito muito importante do exercício da caridade. Ela convida os cristãos a um forte compromisso com a cidadania (...). Precisamos de políticos autenticamente cristãos, mas acima de tudo de fiéis leigos que sejam testemunhas de Cristo e do Evangelho na comunidade civil e política” . Em sua primeira encíclica o pontífice já havia alertado os católicos acerca de suas responsabilidades no campo da política dizendo que “o dever imediato de trabalhar por uma ordem justa na sociedade é próprio dos fiéis leigos. Estes, como cidadãos do Estado, são chamados a participar pessoalmente na vida pública.” . A participação do cristão na política encontra amparo também na Doutrina Social da Igreja, no Documento de Aparecida e no próprio Catecismo da Igreja Católica, que expressamente exorta os fiéis para “tomar parte ativa na vida pública” . Ou seja, a política também é uma forma de evangelizar e os cristãos devem atuar como fermento na massa para construir uma sociedade de acordo com o projeto de Deus.

Assim, participação política é parte da vida cristã, pois os cristãos, tal como Jesus, precisam desafiar as injustiças, contribuindo para a construção de uma sociedade verdadeiramente justa e solidária. Essa contribuição se dá através de idéias e ações capazes de aumentar as oportunidades e melhorar a distribuição das riquezas produzidas pelo País. Também se concretiza no voto consciente, na fiscalização do mandato dos políticos eleitos e até na candidatura aos cargos políticos, como forma de promover o bem comum.

Aos que pregam um antagonismo entre Estado e Igreja, é preciso dizer que sociedade laica não significa sociedade sem fé. Prova disso é que a Constituição Federal do Brasil foi promulgada “sob a proteção de Deus” . A Igreja reconhece que não cabe a ela, enquanto instituição, se fazer substituir ao Estado. Mas também ensina que lutar por uma sociedade justa e solidária, mediante uma constante atuação política, compete a todos os cidadãos, inclusive aos cristãos.

Autorizada ampla divulgação desde que citados autor e fonte.

Notas____________________________________________________

1.Bollettino della Sala Stampa della Santa Sede (tradução de CN Notícias)
2. Deus caritas est., nº 29.
3. Documento de Aparecida, 10.5
4. Catecismo da Igreja Católica, 1 915
5. Preâmbulo da Constituição da Republica Federativa do Brasil

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Jornal vaticano elogia Toy Story 3 e sua lição de amizade verdadeira


.- O jornal vaticano L’Osservatore Romano elogiou a nova produção de Disney-Pixar Toy Story 3, por oferecer aos espectadores uma profunda reflexão sobre temas humanos transcendentais e dar uma lição sobre a amizade verdadeira, através da experiência dos brinquedos protagonistas.

Nesta terceira entrega, os íntimos Woody o vaqueiro e Buzz Lightyear junto com seus amigos devem enfrentar seu destino. Andy, seu dono, deixou de brincar com eles, já tem 17 anos, irá à universidade e deve decidir entre enviá-los como doação a uma creche ou desprezá-los.

No artigo titulado "Como se faz um belo filme", o autor Gaetano Vallini considera que Toy Story 3 é "um filme com F maiúscula" e lamenta as críticas de certas feministas americanas que "teriam visto em alguns personagens tendências sexistas e homofóbicas".

"Provavelmente se esqueceram que quando eram meninas os brinquedos eram apenas objetos através dos quais alguém podia divertir-se e sonhar, duas coisas que esta produção também propõe e se é que não chegar a ser considerada uma obra mestra, pois pouco lhe falta", acrescenta Vallini.

O autor elogia a técnica e a qualidade da produção que superou "o severo juízo das crianças e agrada inclusive os adultos", colocando-se ao nível de outros filmes da Pixar que nos últimos anos ressaltaram os valores humanos como "Wall-E", que promove a defesa da vida, e "Up", que em seus primeiros minutos mostra o valor do matrimônio.

Segundo Vallini, Toy Story 3 revela que "a amizade é o verdadeiro vínculo deste improvável mas afiançado grupo de brinquedos" e permite que o espectador reflita sobre "temas importantes, como o valor da amizade e a solidariedade, o medo a sentir-se só ou rechaçado, o iniludível de fazer-se grande e a força que surge ao sentir-se parte de uma família".

Trata-se, acrescenta de "outro belíssimo filme: uma aventura de grande intensidade emotiva, em que as vivências dos brinquedos, graças à sua capacidade de atuar e pensar como humanos ao puro estilo Disney, convertem-se em uma metáfora útil para falar de sentimentos verdadeiros" sob a famosa frase "Há um amigo em mim", da canção que acompanha Toy Story desde seu primeiro episódio.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Revista masculina portuguesa ultrapassa os limites do ultraje à fé.


A “homenagem ” ao escritor José Saramago feita pela edição deste mês da revista “Playboy” está causando polêmica.

A capa faz referência ao livro “O evangelho segundo Jesus Cristo” e mostra um homem vestido como Jesus Cristo junto a uma mulher nua. Em suas páginas internas tem inúmeras fotos de mulheres despidas ao lado de Jesus Cristo.

Theresa Hennessy, vice-presidente da Playboy Entertainment, garante que a publicação das fotografias é “uma violação chocante das normas” e não teriam sido publicadas se a Playboy tivesse conhecimento antecipado.

Em declarações ao site norte-americano Gawker, a responsável garante: “Devido a esta e a outras questões com os editores portugueses, estamos prestes a rescindir o nosso acordo.”

Fonte: jornal i

Comentário do blog O Inimputável( Português) sobre essa notícia.

É espantoso observar como em Portugal se perdeu por completo a noção dos limites. Como é possível que se possa ofender os cristãos com um pretexto de uma (falsa) homenagem a uma personalidade que passou a vida num combate feroz contra a Fé e, em particular, contra a Igreja Católica?

Pelos vistos a vice-presidente da revista terá percebido a gravidade da situação e colocou um fim nesta insanidade escandalosa. E ainda bem que o fez pois se estivéssemos à espera na nossa justiça…

Este caso leva a que os católicos em Portugal devam, tal como acontece, por exemplo, nos EUA, combater com maior afinco a pornografia e o erotismo que grassam por todo o lado. As nossas crianças e os nossos adolescentes ficam expostos a este tipo de influência prejudicial (veja-se, por exemplo, o erotismo sub-reptício da série “morangos com açúcar”). Alem disso, o consumo compulsivo de pornografia (e o culto da pornografia) é um denominador comum em mentes perturbadas: psicopatas, violadores e pedófilos. A Igreja (incluindo os leigos) tem o dever de alertar para esta situação e encetar esforços no sentido de combater esta excessiva erotização da sociedade. Ou será que este aspecto não fará também parte da tão propagada educação sexual?

O progresso técnico na Idade Média


Em geral, os historiadores mostram grande má vontade para com o período medieval: Teria sido uma época de superstição e atraso, estagnação e crueldade. É uma visão certamente preconceituosa, causada pelo ódio à influência exercida naquela época pela Igreja Católica tradicional, de cujo espírito estavam impregnadas, em maior ou menor grau, todas as instituições.

Todavia, a Idade Média foi época de muitos inventos, grandes e pequenos, de cuja origem às vezes não se suspeita. Vejamos, por exemplo, o setor de transportes.

Com o desenvolvimento dos mastros, a junção da vela latina e da vela quadrada, a multiplicação dos remadores nas galeras, o reforço do casco por meio de um esporão robusto, obtiveram-se melhores condições de nevegabilidade. (Perroy, 1957 : 177). Contudo, maior progresso alcançou-se no século XIII, ao generalizar-se o leme de cadaste, que veio substituir o pesado remo situado na popa do navio, permitindo uma direção mais segura de embarcações muito maiores. (Wolff, 1988: 146; Heers, 1968 : 255). “Devido à pressão exercida pela vela de proa sobre o leme, tornou-se necessário um certo contrapeso mais a ré. Isso levou ao acréscimo de um terceiro mastro na popa conhecido como mastro de mezena. A primeira ilustração datada de uma carraca de três mastros é de 1466. No final da Idade Média algumas dessas embarcações tinham 60 metros de comprimento com uma boca de 15 metros e uma capacidade de cerca de 1.400 toneladas.” (Hodgett, 1975 : 131) A invenção do leme (desconhecido na civilização greco-romana) e da bússola provocaram o ciclo das descobertas dos séculos XV e XVI. (Fonseca, 1958 : 273-274). É quando aparecem as primeiras cartas marítimas (Giordani, 1993 : 324), invenções que, associadas ao astrolábio, permitiram a navegação em alto-mar. (Vianna, 1962 : 620). Atribui-se ao Papa Silvestre II a invenção, ou talvez a introdução, a partir do mundo islâmico, do astrolábio “para medir a altura dos astros sobre o horizonte, da esfera sólida destinada a estudar os movimentos ce-lestes e do primeiro relógio mecânico acionado por pesos. As conseqüências foram incalculáveis.” (Puiggrós, 1965 : 173). O astrolábio, de início ainda rudimentar, aperfeiçoou-se pouco a pouco: Presença dos azimutes, aparecimento do ostensor, exatidão na graduação da eclíptica. (Beaujouan, 1959 : 130). Em 1434, surge a caravela em Valença. (Wolff, 1988 : 237). Nos Países Baixos, apareceu a eclusa; constituída por uma câmara com portas em cada extremidade, possibilitava a passagem da embarcação de um nível de água para outro. Canais e eclusas surgiram em Flandres e na Holanda já no século XII. (Hodgett, 1975 : 132).

No século XI, os europeus começaram a usar ferraduras nos animais; isto lhes aumenta a vida útil e, com a utilização da carreta de quatro rodas, possibilita um distanciamento maior entre a aldeia e os campos. (Silva, 1986 : 47). “Do século X ao século XII, generaliza-se no Ocidente o moderno atrelamento dos animais, a coelheira dura, os tirantes, a disposição em fila e a ferragem com pregos: desde então os cavalos podem tirar com toda a sua força e peso, em vez de erguerem a cabeça, semi-estrangulados, como ‘os altivos corcéis’ da Antiguidade. (...) o jogo dianteiro móvel data do século XIV e permitirá a tração das peças de artilharia recém-inventadas.” (Beujouan, 1959 : 143). A adoção generalizada da coelheira possibilitou o atrelamento aos arados de cavalos em lugar de bois, uma mudança que ocorreu por volta de 1200. Os bois também passaram a ser utilizados com maior eficiência através da invenção da canga frontal, pois esta deu-lhes mais força de tração que a anterior, presa nos chifres. (Hodgett, 1975 : 220). Surge um pequeno objeto, na aparência evidente — mas totalmente desconhecido na Antiguidade: o estribo, graças ao qual o cavaleiro podia empunhar a sua arma com muito mais força e confiança. (Trevor-Roper, 1966: 102-104).

A pavimentação das estradas, mais fácil e mais econômica, substitui com vantagem o lajeamento das vias romanas. O São Gotardo, por tanto tempo intransponível, transformou-se em via de trânsito, através da primeira ponte pênsil de que se tem conhecimento, datada provavelmente do início do século XIII. (Pirenne, 1982 : 39). Por outro lado, o túnel de estrada mais antigo, o do Monte Viso, com de cerca de cem metros, foi construído entre 1478 e 1480, com a finalidade de facilitar o transporte do sal da Provença. (Wolff, 1988 : 144). Foi inventado também esse aparelho extraordinário, o carrinho de mão, que permite a um homem realizar o trabalho de dois. (Fremantle, 1970 : 125; Vianna, 1962 : 621)

Nas cidades, a calçada destinada aos pedestres introduziu-se a partir de 1185 em Paris, 1235, em Florença, 1310, em Lübeck. (Mumford, 1965 : 401). As ruas largas não eram necessárias, “pois havia pouco tráfego sobre rodas, e nenhum exigia trânsito rápido.” (Hodgett, 1975 : 71). São também criações medievais a chaminé doméstica, a vela e o círio. (Vianna, 1962 : 621)

A partir do século X, os cursos d’água são regulados, cortados por desvios, barragens e quedas destinadas a movimentar moinhos de cereais e lagares. A roda d’água era tão utilizada que na Inglaterra de Guilherme o Conquistador (século XI) contavam-se cinco mil. Foi usada em toda a parte, para bombear água, serrar madeira, pulverizar o pigmento das tintas e o malte da cerveja, acionar máquinas, triturar minérios, forjar ferro, espichar arames... Com ela, a escavação das minas ultrapassou em muito os 800 metros de profundidade. (Puiggrós, 1965 : 179; Hodgett, 1975: 28). Aprimoraram-se as engrenagens e outros dispositivos mecânicos. Surge o fole com placas e válvulas. “No fim da Idade Média, o alto-forno possibilitou a fabricação do ferro fundido. Essa foi a invenção mais importante da indústria metalúrgica. O bronze, uma liga de cobre e estanho, com um ponto de fusão mais baixo que o ferro, era fundido desde os começos do século XII e utilizado na fabricação de sinos e estátuas.” (Hodgett, 1975 : 189). “A fabricação de um sino exigia técnica especial para que o mesmo produzisse um som adequado. O fundidor deveria, antes de iniciar o trabalho, calcular o tamanho do sino e as proporções exatas.” (Giordani, 1993 : 159).

A partir do século XII, explorou-se outra fonte de energia: o vento. Os moinhos de vento são mencionadas em Arles pela primeira vez entre 1162 e 1180. (Hodgett, 1975 : 222). No século XIII, já se comprova a existência de moinhos de maré na foz do Adour, perto de Bayonne. (Giordani, 1993 : 158).

O primeiro poço artesiano conhecido foi perfurado em 1126. Entre as inovações medievais, aparecem também a sericultura (introduzida na Sicília por volta de 1130), a falcoaria, o arenque defumado e a “champanhização” do vinho branco. (Beaujouan, 1959 : 144).

Na indústria doméstica, a roca substitui o fuso para enrolar a estriga. E a partir de 1280, “a roda de fiar ( provavelmente uma das grandes invenções da indústria têxtil) compete com a roca e o fuso, os quais possibilitaram às mulheres trabalhar enquanto supervisionavam outras atividades. No século XIV, o linho é pela primeira vez empregado na confecção de roupas brancas, em oposição aos grosseiros panos de lã até então usados, o que acarreta uma melhoria na higiene e o retrocesso da lepra; fornece também matéria-prima barata para a indústria papeleira trazida da China no século XIII. (Beaujouan, 1959 : 144; Hodgett, 1975 :161). A introdução do tear horizontal de pedal provavelmente triplicou a produtividade dos lanifícios. (Anderson, 1982 : 215). Em fins do século XII, surge um invento no processo de tecelagem da lã: O pisão, que substituiu a pisagem de pés humanos pela batida de martelo sobre o tecido. Um tambor giratório, preso ao eixo de uma roda d’água, acionava os martelos. Outra invenção foi a máquina cardadora, constituída por um conjunto de rolos com cardas, movimentado também pela força hidráulica. (Hodgett, 1975 : 160, 177). O moinho mecânico de dobar a seda parece ter surgido na Itália no fim do século XIII. (Wolff, 1988 : 100). Além disso, foram inventados o botão e a camisa.

O álcool aparece em Salerno por volta de 1110 e sua fabricação melhora rapidamente, com o emprego de desidratantes, como o carbonato de potassa. Além disso, a técnica da destilação aperfeiçoa-se, empregando-se o alambique clássico cujo escoadouro tubular, em forma de serpentina, mergulha numa cuba para a circulação da água. (Beaujouan, 1959 : 144-145). Em Toulouse, fabrica-se aguardente no começo do século XV, “o último grande século do comércio de vinho. Concorrentes vão aparecer e desenvolver-se: em primeiro lugar a cerveja, que se aprende a fabricar melhor na Alemanha no século XIV, com a utilização do lúpulo.” (Wolff, 1988 : 89).

Alberto Magno (1183-1280) conseguiu preparar a potassa cáustica. Foi o primeiro a descrever a composição química do cinabre, do alvaiade e do mínio. Raimundo Lúlio (1235-1315) preparou o bicarbonato de potássio. Teofrasto Paracelso (1493-1541) descreveu o zinco, desconhecido até então. Introduziu igualmente na medicina o uso dos compostos químicos.

Os óculos para corrigir a miopia aparecem por volta de 1285; primeiro, de cristal de rocha, depois de vidro. Nos séculos seguintes, outros artesãos iriam melhorar as lentes, de onde resulta-riam o telescópio e o microscópio. (Fremantle, 1970 : 149).

Os relógios mecânicos de peso difundem-se no fim do século XIII. No século XV surgem os relógios de areia, ou ampulhetas. (Wihthrow, 1993 : 119)

O estilo gótico, na arquitetura, surge como um progresso essencialmente técnico, que consistia numa diminuição das pressões exercidas pelas abóbadas, as quais podiam elevar-se pelo afilamento das flechas e o equilíbrio dos arcobotantes leves (filhos da ciência dos números, inven-tados em Paris em 1180 para erguer mais alto a nave de Notre-Dame) e colunas com coruchéus. As abóbadas atingem alturas cada vez maiores: 32 metros em Paris, 37 em Chartres , 42 em Amiens, 48 em Beauvais! Acessoriamente, a abóbada melhorava os valores acústicos dum edifício destinado à execução do canto coral. Por sua vez, o adelgaçamento das paredes fez desabrochar a técnica do vitral, cujo emprego fora até então limitado pela estreiteza das aberturas românicas; os vãos puderam alargar-se, havendo mais espaço para as janelas e, assim, as igrejas tornam-se mais iluminadas. No período que vai de 1170 a 1270 construíram-se na França mais de 500 grandes igrejas góticas. (Fremantle, 1970 : 127; Duby, 1979 : 121, 281; Perroy, 1957 : 166-167) . Aliás, a herança mais duradoura da Idade Média é sua arquitetura. Os castelos são em sua maioria ruínas impressionantes; as catedrais continuam de pé, desafiando os séculos. (Ferguson, 1970 : 220).

No domínio das obras públicas, mencionam-se as pontes com arcos em segmento, as comportas e as dragas. (Beaujouan, 1959 : 145-146)

A contabilidade ganha em clareza com a adoção do método veneziano das duas colunas, frente a frente (crédito e débito); mas sua transformação mais importante consistiu nas partidas dobradas que, provavelmente, surgiram simultaneamente em várias cidades italianas entre 1250 e 1350. Elas não precisarão sofrer, até o fim do século XIX, senão pequenas alterações de detalhe. A letra de câmbio aparece no século XIII. (Wolff : 1988 : 126). Os cambistas examinavam e pesavam as moedas; do “banco” onde eles realizavam essa operação surgiu a instituição bancária, e as variadas práticas financeiras nasceram desse serviço primitivo de câmbio de dinheiro. (Fremantle, 1970 : 74). O seguro marítimo está presente em documentos genoveses desde o século XII. (Pirenne, 1982 : 124).

As feiras, existentes desde o século XI, eram centros de intercâmbio em grande escala , que se esforçavam em reunir o maior número possível de homens e produtos. (Pirenne, 1982 : 102).

Foram fundadas no século XIII, algumas organizações postais privadas. Em 1357, dezessete companhias florentinas fundaram a ‘Scarsella dei Mercanti Fiorentini’ que mantinha, toda semana, um correio comum e nos dois sentidos com Avignon. Foi a primeira companhia postal conhecida, cujos estatutos foram conservados. (Wolff, 1988 : 156).

“Em 1305, para uniformizar as medidas em certos negócios, o rei Eduardo I, da Inglaterra, decretou que fosse considerada como uma polegada a medida de três grãos secos de cevada, colocados lado a lado. Os sapateiros ingleses gostaram da idéia e passaram a fabricar, pela primeira vez na Europa, sapatos em tamanho padrão, baseados no grão de cevada.” (Superinteressante, São Paulo, 2 : 13, fev. 1988).

A obra medieval de Beda contém a primeira investigação científica das marés, envolvendo o mais antigo estudo sobre o intervalo médio entre o momento da maré cheia e o do trânsito anterior do meridiano pela lua. (Whithrow, 1993 : 90).

“A primitiva lavoura utilizava, no Médio Oriente e no Mediterrâneo, o sistema da ‘sulcagem’: um espigão, com a ponta virada para baixo, puxado por uma junta de bois, primeiro numa direção, depois transversalmente, arroteava um lote quadrado de terra. Este método era suficiente para os terrenos leves e secos. Mas, nos solos húmidos e pesados do norte da Europa, esse tipo de arado era inadequado, exceto nos outeiros bem drenados. Por conseguinte, a agricultura foi, a princípio, praticada apenas em zonas muito limitadas. Na Idade Média, começou a generalizar-se, gradualmente, pelo Norte da Europa, um novo tipo de arado. Tratava-se de um arado pesado com lâmina e relha para fender o solo e uma aiveca para voltar os torrões para os lados e abrir um sulco, drenando desse modo o terreno, ao mesmo tempo que o lavrava.” (TrevorRoper, 1966 : 121-122; Heers, 1968 : 121). Começa-se a utilizar a grade; revolvido mais amplamente, melhor arejado, o solo absorve melhor a marga, uma argila que contém carbonato de cálcio e, quando misturada à camada superior do solo, mostra-se um fertilizante valioso. (Perroy, 1957 : 23-24). A irrigação (de pastos e terras de lavoura) começou a ser empregada em larga escala e a Itália provavelmente abriu o caminho. Na Idade Média, outra invenção, o mangual, que substituiu a vara de bater, aperfeiçoa o processo de debulha. (Hodgett, 1975 : 29, 221; Mumford, 1965 : 337).

Nesse período, além das plantas cultivadas nos tempos clássicos, foram aprimorados: A espelta, o centeio, a aveia e o fagópiro. Além do sorgo, outras culturas foram introduzidas na região mediterrânea, pelos gregos ou árabes: Arroz, cana-de-açúcar, algodão e amoreira. (Hodgett, 1975: 30, 225). O pousio trienal e, a partir do século VIII, o sistema de três plantações alternadas, permitem a aclimatação de novas culturas e aumentam acentuadamente a produção agrícola.

Seria o mundo medieval um inferno de misérias? Descobre-se o contrário a partir de um levantamento referente à cidade de Toulouse, onde, em 1322, havia 177 açougueiros, ou seja, um para cada 226 habitantes, “para uma população máxima de 40.000 almas — cerca de duas ou três vezes mais que hoje; e alguns figuravam entre os comerciantes mais ricos da cidade.” (Wolff, 1988 : 82-83). A conserva do arenque no sal foi descoberta em 14l6, por Willem Beeckelz. (Fonseca, 1958 : 314). “Apareceram as boas maneiras, a ‘etiqueta’, a faca passou a ser um componente da mesa, assim como o garfo, que acabou se tornando um utensílio doméstico após a peste negra (1348-1349).” (Villa, 1998 : 10).

“Já em 1159, os primeiros pôlderes, porções de terra tomadas aos alagadiços ou ao mar por meio de diques, foram criados em Flandres.” (Mumford, 1965 : 336). A maior parte dos diques holandeses foi construída entre os anos de 1250 e 1350. Em 1408, aparece o primeiro exemplo conhecido de moinho de vento para bombear a água dos pôlderes.

Depois da manivela — descoberta de importância fundamental — ocorreu a invenção alemã da biela, peça rígida com duas articulações para transformar o movimento rotativo em alternativo. Começaram a utilizar-se ferramentas, como a plaina, e passou-se a usar o carvão como combustível. Diversas invenções, como a cola e o papel, foram transmitidas pela China à Europa. (Whithrow, 1993 : 102, 109). A tinta romana para escrever, feita do negro da fumaça com goma e água, não tinha fixadores; era uma tinta moída; ao passo que a utilizada na Idade Média se fazia por infusão, com goma, pedra-ume e resina de carvalho. (Spina, 1977 : 30-31).

Vê-se, portanto, que a Idade Média, ao contrário do que muitos imaginam, foi extremamente fecunda em avanços técnicos.


Bibliografia:

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PAUWELS, Louis & BERGIER, Jacques. O despertar dos mágicos. São Paulo, Clube do Livro, s/d.

PERROY, Édouard. História geral das civilizações. A Idade Média. São Paulo, Dif. Européia do Livro, 1957. t. 3, v., 2.

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SPINA, Segimundo. Introdução à edótica. São Paulo, Cultrix/EDUSP, 1977. p. 30-31.

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THIERRY, J. W. Draining of polders in the Netherlands. First Congress of Irrigation and Drainage. New Delhi, vol. 2 : 17-21, 1951.

TREVOR-ROPER, Hugh. A formação da Europa cristã. Lisboa, Verbo, 1966.

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WHITROW, Gerald James. O tempo na história. Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editor, 1993.

WOLFF, Philippe. Outono da Idade Média ou primavera dos tempos modernos? São Paulo, Martins Fontes, 1988.


domingo, 4 de julho de 2010

Holandês, “carrasco” do Brasil na Copa, é católico e “reza antes de cada jogo”.




O carrasco do Brasil, Wesley Sneijder, jogador da Holanda, tem uma belíssima história de conversão e testemunho da fé.

A sua noiva, Yolanthe Cabau van Kasbergen, uma bem sucedida modelo alemã, foi a responsável pela apresentação da Religião a ele. Depois de uma caminhada de busca e questionamentos Sneijder converte-seu; “Eu fui batizado recentemente na Itália.”Além da evangelização da noiva, a mudança para o Internazionale, vivendo em meio a uma cultura fundamentalmente católica, despertou no jogador algum interesse; “Eu sempre fui um crente, mas não católico. Falei com muitos jogadores sobre isso e com o sacerdote do clube e decidi tornar-me católico” A influência da noiva foi essencial, o que mostra a importância da evangelização do mundo de forma eficiente, eficaz e corpo-a-corpo; “Ela é totalmente católica, foi batizada, fez a comunhão e todas essas coisas. Eu decidi ler mais sobre e conversei muito sobre isso com ela.”

“Nós queremos nos casar numa igreja na Itália, então você precisa ser católico e batizado. Nós visitamos a igreja todas as semanas, às vezes mais de uma vez… Eu amo aquelas Missas. Nós moramos a 100 metros do Domo de Milão e passo muito tempo lá.”

“Yolanthe deu-me um rosário. Foi abençoado por um Padre na Itália. Nós o rezamos todas as manhãs. Hoje, estando aqui, nós rezamos por telefone.”
“Eu rezo no meu quarto de hotel antes do jogo, faço uma pequena oração no vestiário, mas quando estou em campo eu não estou pensando sobre isso. Mas, estou bastante sério e comprometido sobre e tenho que dizer, a vida é muito mais fácil para mim agora … Para mim funciona … “

sábado, 3 de julho de 2010

O Hábito não faz o monge… o santifica!



Por: Padre Leonardo Holtz Peixoto

Certamente alguns dos que lêem este texto agora, irão lembrar-se de sua infância. Um grupo de crianças brinca na rua, sem perigo de violência ou preocupação com maldades. Canções de roda, ou de pular corda enchem o ar do bairro de uma alegria pura, inocente. Lá ao longe se avista aquele distinto senhor. Todos o identificam rápida e facilmente: um chapéu preto e redondo, nas mãos um breviário; vestindo sua batina preta e surrada; talvez cerzida em alguns pontos e até desbotada. Todos já sabem: “aí vem o ‘seu’ vigário!” A ele as crianças acorrem para pedir uma bênção e ganhar um ‘santinho’ ou um doce, sem risco de pedofilia.

Este sacerdote segue seu caminho e, certamente, o encontraremos visitando uma família, ou confortando um enfermo pela Extrema Unção, ou, quem sabe, na sua Paróquia de joelhos na nave central da Igreja, diante do Sacrário, ou ainda, dentro de um confessionário.

Onde estão estes padres hoje?

Sl 76(77)

–8 Será que Deus vai rejeitar-nos para sempre? *

E nunca mais nos há de dar o seu favor?

–9 Por acaso, seu amor foi esgotado? *

Sua promessa, afinal, terá falhado?

–10 Será que Deus se esqueceu de ter piedade? *

Será que a ira lhe fechou o coração?

–11 Eu confesso que é esta a minha dor: *

‘A mão de Deus não é a mesma: está mudada!’

“A mão de Deus não é a mesma: está mudada!” Está mudada porque aqueles que deveriam ser as mãos, os pés, os lábios, os braços de Nosso Senhor na terra, os padres, estão mudados.

Há quem diga esta famigerada frase: “O hábito não faz o monge”. Esta frase é profundamente tola, pois se trata de uma falácia! Certa vez, conversando com algumas daquelas pessoas que acham que o padre é um homem comum e que, por isso, deve se vestir como um homem comum para ‘dialogar’ com o mundo moderno, ouvi este absurdo: “A batina não é o mais importante, mas o sacerdócio que o padre recebeu. Ele vai ser mais padre ou menos padre por estar de batina?” Então eu respondi: “Mas é claro que não! O sacerdócio é muito maior que uma simples veste. E a Igreja NUNCA afirmou coisa em contrário. Mas, agora, permita-me fazer duas perguntas: a faca é um utensílio tão necessário em nosso dia-a-dia; utilizada para picar, descascar e cortar. Mas ela também é capaz de tirar uma vida. Você a deixaria de usar definitivamente por causa disso? Você deixaria de dirigir o seu carro, mesmo sabendo que ele, um dia, pode atropelar e matar alguém, ou, num acidente, matar a você mesmo?” Obviamente que a resposta foi “Não”. É claro que sabemos que a batina não é o fundamento da nossa fé, esperança e caridade; A batina não é o centro da vida da Igreja; Eu não vou ser mais padre por estar de batina. Tudo isso já sabemos. Contudo nada disso justifica o desuso da mesma. Da mesma forma que tenho que ter a consciência de utilizar uma faca ou dirigir o meu automóvel com sabedoria e prudência, devo saber utilizar a batina com a mesma sabedoria, prudência e, sobretudo, humildade. Não adianta ser um “cavalo de batina”!

A batina nos impõe um COMPROMISSO solene e terrível. Quando estou revestido do sagrado hábito devo agir com prudência. Devo medir minhas palavras e gestos. Não devo me sentar de qualquer forma. Não devo andar de qualquer forma. Não devo subir ou descer escadas de qualquer forma. Estando de batina devemos pensar muito sobre nossas atitudes e palavras! Não posso me esquecer que todos os olhos estarão voltados para mim. Devo ser um exemplo no agir, no falar, enfim, em tudo. Usando o sagrado hábito não posso me esquecer de que carrego comigo a responsabilidade de toda uma instituição, e não apenas de uma pessoa física! Tudo o que o padre faz, já dizem logo que é a Igreja que faz! Por isso não se deve usar a batina de qualquer forma. Aliás, este é o motivo pelo qual muitos padres hoje não querem usá-la. Sob uma FALSA modéstia dizem: “não uso para não chamar atenção”. Isso é uma desculpa esfarrapada! A VERDADE é que não querem usá-la (e nem ao menos o Clergyman) para não serem identificados e, portanto, não serem incomodados. SEMPRE que estou de batina na rua aparece alguém pedindo uma bênção, ou para tirar uma dúvida ou até para desabafar! Já ouvi inclusive uma confissão (literalmente auricular) na Linha 1 do Metrô! Mas, é claro, que é muito mais cômodo estar no meio da rua e não ser identificado. Conheci sacerdotes que me chamaram atenção porque eu os chamei de “padre” no meio da rua! Fui imediatamente repreendido (e não foi em nome de Jesus): “Por favor, na rua me chame pelo meu nome”. A questão é que revestido do Clergyman ou Batina ‘fica mal’ ele parar num bar e tomar uma cerveja; ‘fica mal’ ele fumar quase um maço de cigarro; ‘fica mal’ ele não controlar os seus olhares apetitosos para uma bela moça (ou, quem sabe, um rapaz) na rua. Há até padres que, movidos pela Passione, deixam de celebrar a Santa Missa e mandam um Ministro Extraordinário fazer uma celebração em seu lugar…

Certa vez, fazendo uma meditação, me perguntei por que a batina incomoda tanta gente. E logo – ironicamente – me veio uma antiga musiquinha à mente; claro que com as devidas adaptações não-pastorais:

“Um elefante incomoda muita gente.

Uma batina incomoda, incomoda, incomoda muito mais!”

Não sou um psicólogo, contudo minha meditação me fez chegar à seguinte conclusão: creio que exista aqui uma questão de CONSCIÊNCIA. Por isso a batina incomoda tanto.

  • Alguns não a usam porque tem consciência de que não possuem nem a força espiritual e nem a volitiva quer seja imanente ou emanente de se portarem como o hábito exigiria. Só de pensar, isso já causa neles certa repulsa.
  • Outros têm consciência de sua falta de disciplina e de ascese. Parece-me que quase não há mais hoje em dia a pré-disposição a “oferecer sacrifícios de amor a Nosso Senhor” como outrora faziam os santos. Hoje todos buscam o mais cômodo o mais confortável: é a busca incessante pelo bem-estar!

“Entrai pela porta estreita, porque larga é a porta e espaçoso o caminho que conduzem à perdição e numerosos são os que por aí entram. Estreita, porém, é a porta e apertado o caminho da vida e raros são os que o encontram.”

(Mt 7, 13-14)

  • Há aqueles sacerdotes que NÃO USAM o hábito, mas adoram comentar e criticar os que usam; estes senhores, bem no fundo de suas almas, sentem o incômodo da consciência, porque sabem que a presença daquele hábito é para eles uma constante lembrança de suas infidelidades e que deveriam viver a sua consagração com mais dedicação.

Mas a batina não atinge apenas a consciência dos ministros ordenados, mas igualmente a dos leigos. Vejamos alguns exemplos:

  • Um sacerdote que passa de batina nas ruas faz aquele que está afastado da Igreja há algum tempo lembrar que ele precisa se reconciliar com Deus; Às vezes a pessoa está em seus afazeres diários e nem está pensando em Deus; mas ao ver aquele padre passar, DUVIDO que dentro de sua cabeça e de seu coração a vozinha da consciência não diga “já faz tempo que você não vai à Igreja” ou “você tem tanto tempo pra tudo… precisa de um tempo para Deus também”.
  • Até mesmo os ateus ou os hereges sentem a consciência arder quando um sacerdote passa de batina. Nem que seja para dar-lhe um olhar de desdém ou cantarolar uma música pentecostal (que não é, em absoluto, para louvar a Deus, mas, antes, para ‘provocar’ o padre). Se eles REALMENTE não ligassem e não se importassem, ficariam em silêncio e ignorariam o sacerdote. Se fazem algum gesto, por menor que seja, é porque algo dentro deles diz: “você está errado e precisa de conversão!”

O irônico da história toda é que os que julgam ser o hábito eclesiástico somente uma exterioridade são, na sua maioria, pessoas superficiais. Se perguntarmos a eles qual é o significado do hábito talar, por certo não saberão dizê-lo. Pelo contrário vão logo dizer: “isso é coisa do passado” ou ainda “isso não se usa mais”. São Ignorantes da LEI de sua própria Igreja (Código de Direito Canônico) que diz:

Cân. 284 - Os clérigos usem hábito eclesiástico conveniente, de acordo com as normas dadas pelas conferências dos Bispos e com os legítimos costumes locais.

Nota de rodapé do cânone 284: Após entendimentos laboriosos com a Santa Sé, ficou determinado que os clérigos usem, no Brasil, um traje eclesiástico digno e simples, de preferência o “clergyman” (camisa clerical) ou “batina”.

A batina é um sinal de consagração a Deus. Sua cor negra é sinal de luto. O padre morreu para o mundo, porque tudo o que é mundano não lhe atrai mais. Ela é ornada de 33 botões na frente, representando a idade de Nosso Senhor. São 5 botões nas mangas, representando as 5 chagas de Nosso Senhor. Também possui 2 presilhas laterais que simbolizam a humanidade e a divindade de Nosso Senhor. O padre a usa com uma faixa na cintura, símbolo da castidade e do celibato. Algumas possuem mais 7 botões na parte superior do braço, simbolizando os 7 sacramentos, com os quais o padre conforta os fiéis.

A batina é, também, um santo remédio contra a vaidade. Enquanto um homem comum precisa gastar tempo em frente ao seu guarda-roupas ou a um espelho verificando se este paletó combina com aquela camisa ou se a cor da gravata está adequada, o padre veste sua batina e pronto. Nem precisa perguntar “o que eu vou vestir hoje?”. Sua roupa é uma só! Por isso ela também é símbolo de fidelidade e constância. Nos batizados, o padre usa a batina. Se for um casamento: batina! Se for um aniversário: batina! E se for um funeral? Batina! Na alegria e na tristeza, na saúde e na doença… é sempre a mesma coisa. E não podia ser diferente, uma vez que o padre é o representante de Nosso Senhor Jesus Cristo que é o mesmo: ONTEM, HOJE e SEMPRE!

Aprendi em filosofia que expressamos no exterior o que há no interior. Aliás, essa idéia foi expressa por Nosso Senhor: “a boca fala do que o coração está cheio” (Mt 12,34). Talvez esteja aí a resposta para o desleixo e o desmazelo que há hoje na Igreja e no clero. Perdoe-me, caro leitor, se “pego pesado” demais. Mas penso que se a Igreja tivesse mantido a rígida disciplina do passado, metade do nosso atual clero não seriam padres hoje. Jesus conta uma parábola no Evangelho de São Lucas sobre um administrador INFIEL, que, ao ser descoberto, está prestes a perder seu emprego:

“O administrador refletiu então consigo: Que farei, visto que meu patrão me tira o emprego? Lavrar a terra? Não o posso. Mendigar? Tenho vergonha.” (Lc 16,3)

Tenho a impressão de que muitos sacerdotes vivem hoje do mesmo modo que esse administrador infiel. Como não se sentem capacitados para realizar outra atividade, por isso, se servem da Igreja. Vão “empurrando com a barriga” o seu ministério. Em nome de uma “simplicidade” cometem as maiores atrocidades: Missas celebradas de qualquer maneira; desrespeito às coisas sagradas; paramentos terrivelmente feios ou sujos; igrejas que mais parecem caixotes e não expressam piedade, etc. Parece que nem sequer acreditamos mais naquilo que fazemos. Hoje, por exemplo, eu estava de batina caminhando pelas ruas do centro da cidade. Passei por um seminarista e ele me cumprimentou: “E aí, padre? Beleza?”. A menos de cinqüenta metros à frente, um mendigo que estava sentado à porta de uma loja também me saudou: “a bença seu padre…”.

Oremos pelo clero.


Deixai, ó Jesus, que em vosso Coração Eucarístico, depositemos as mais ardentes preces pelo nosso clero. Multiplicai as vocações sacerdotais em nossa pátria; atrai ao vosso altar os filhos do nosso Brasil; chamai-os como instância ao vosso ministério!

Conservai na perfeita fidelidade ao vosso serviço aqueles a quem já chamastes; afervorai-os, purificai-os santificai-os, não permitindo que se afastem do espírito de vossa Igreja.

Não consintais, ó Jesus nós Vos suplicamos, que debaixo do céu brasileiro sejam, por mãos indignas, profanados os vossos mistérios de amor. Com instância vos pedimos: deixai que a misericórdia de vosso Coração vença a vossa justiça divina por aqueles que se recusaram à honra da vocação sacerdotal, ou desertaram das fileiras sagradas.

Por vossa Mãe, Maria Santíssima, Rainha dos Sacerdotes, atendei, Jesus, a esta nossa insistente oração.Ó Maria, ao vosso coração confiamos o nosso Clero: guiai-o, guardai-o, protejei-o, salvai-o!

Cardeal Leme