quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Discurso do Papa aos bispos do Regional Nordeste 5


Amados Irmãos no Episcopado,


"Para vós, graça e paz da parte de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo" (2 Cor 1, 2). Desejo antes de mais nada agradecer a Deus pelo vosso zelo e dedicação a Cristo e à sua Igreja que cresce no Regional Nordeste 5. Lendo os vossos relatórios, pude dar-me conta dos problemas de caráter religioso e pastoral, além de humano e social, com que deveis medir-vos diariamente. O quadro geral tem as suas sombras, mas tem também sinais de esperança, como Dom Xavier Gilles acaba de referir na saudação que me dirigiu, dando livre curso aos sentimentos de todos vós e do vosso povo.

Como sabeis, nos sucessivos encontros com os diversos Regionais da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, tenho sublinhado diferentes âmbitos e respectivos agentes do multiforme serviço evangelizador e pastoral da Igreja na vossa grande Nação; hoje, gostaria de falar-vos de como a Igreja, na sua missão de fecundar e fermentar a sociedade humana com o Evangelho, ensina ao homem a sua dignidade de filho de Deus e a sua vocação à união com todos os homens, das quais decorrem as exigências da justiça e da paz social, conforme à sabedoria divina.

Entretanto, o dever imediato de trabalhar por uma ordem social justa é próprio dos fiéis leigos, que, como cidadãos livres e responsáveis, se empenham em contribuir para a reta configuração da vida social, no respeito da sua legítima autonomia e da ordem moral natural (cf. Deus caritas est, 29). O vosso dever como Bispos junto com o vosso clero é mediato, enquanto vos compete contribuir para a purificação da razão e o despertar das forças morais necessárias para a construção de uma sociedade justa e fraterna. Quando, porém, os direitos fundamentais da pessoa ou a salvação das almas o exigirem, os pastores têm o grave dever de emitir um juízo moral, mesmo em matérias políticas (cf. Gaudium et Spes, 76).

Ao formular esses juízos, os pastores devem levar em conta o valor absoluto daqueles preceitos morais negativos que declaram moralmente inaceitável a escolha de uma determinada ação intrinsecamente má e incompatível com a dignidade da pessoa; tal escolha não pode ser resgatada pela bondade de qualquer fim, intenção, conseqüência ou circunstância. Portanto, seria totalmente falsa e ilusória qualquer defesa dos direitos humanos políticos, econômicos e sociais que não compreendesse a enérgica defesa do direito à vida desde a concepção até a morte natural (cf. Christifideles laici, 38). Além disso, no quadro do empenho pelos mais fracos e os mais indefesos, quem é mais inerme que um nascituro ou um doente em estado vegetativo ou terminal? Quando os projetos políticos contemplam, aberta ou veladamente, a descriminalização do aborto ou da eutanásia, o ideal democrático – que só é verdadeiramente tal quando reconhece e tutela a dignidade de toda a pessoa humana – é atraiçoado nas suas bases (cf. Evangelium vitæ, 74). Portanto, caros Irmãos no episcopado, ao defender a vida "não devemos temer a oposição e a impopularidade, recusando qualquer compromisso e ambiguidade que nos conformem com a mentalidade deste mundo" (ibidem, 82).

Além disso, para melhor ajudar os leigos a viverem o seu empenho cristão e sócio-político de um modo unitário e coerente, é "necessária — como vos disse em Aparecida — uma catequese social e uma adequada formação na doutrina social da Igreja, sendo muito útil para isso o 'Compêndio da Doutrina Social da Igreja'" (Discurso inaugural da V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe, 3). Isto significa também que, em determinadas ocasiões, os pastores devem mesmo lembrar a todos os cidadãos o direito, que é também um dever, de usar livremente o próprio voto para a promoção do bem comum (cf. GS, 75).

Neste ponto, política e fé se tocam. A fé tem, sem dúvida, a sua natureza específica de encontro com o Deus vivo que abre novos horizontes muito para além do âmbito próprio da razão. "Com efeito, sem a correção oferecida pela religião até a razão pode tornar-se vítima de ambiguidades, como acontece quando ela é manipulada pela ideologia, ou então aplicada de uma maneira parcial, sem ter em consideração plenamente a dignidade da pessoa humana" (Viagem Apostólica ao Reino Unido, Encontro com as autoridades civis, 17-IX-2010).

Só respeitando, promovendo e ensinando incansavelmente a natureza transcendente da pessoa humana é que uma sociedade pode ser construída. Assim, Deus deve "encontrar lugar também na esfera pública, nomeadamente nas dimensões cultural, social, econômica e particularmente política" (Caritas in veritate, 56). Por isso, amados Irmãos, uno a minha voz à vossa num vivo apelo a favor da educação religiosa, e mais concretamente do ensino confessional e plural da religião, na escola pública do Estado.

Queria ainda recordar que a presença de símbolos religiosos na vida pública é ao mesmo tempo lembrança da transcendência do homem e garantia do seu respeito. Eles têm um valor particular, no caso do Brasil, em que a religião católica é parte integral da sua história. Como não pensar neste momento na imagem de Jesus Cristo com os braços estendidos sobre a baía da Guanabara que representa a hospitalidade e o amor com que o Brasil sempre soube abrir seus braços a homens e mulheres perseguidos e necessitados provenientes de todo o mundo? Foi nessa presença de Jesus na vida brasileira que eles se integraram harmonicamente na sociedade, contribuindo ao enriquecimento da cultura, ao crescimento econômico e ao espírito de solidariedade e liberdade.

Amados Irmãos, confio à Mãe de Deus e nossa, invocada no Brasil sob o título de Nossa Senhora Aparecida, estes anseios da Igreja Católica na Terra de Santa Cruz e de todos os homens de boa vontade em defesa dos valores da vida humana e da sua transcendência, junto com as alegrias e esperanças, as tristezas e angústias dos homens e mulheres da província eclesiástica do Maranhão. A todos coloco sob a Sua materna proteção, e a vós e ao vosso povo concedo a minha Benção Apostólica.


quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Qual a religião de seu super herói preferido?

Fonte: Mutante X

Aproveitando que o Vaticano declarou recentemente que Homer Simpson é um modelo de cristão católico, nosso blox resolveu fazer um levantamento sobre a religião de alguns super-heróis conhecidos.

É bem verdade que o conceito de heroismo sempre esteve intimamente ligado com a religião. Basta estudar mais a fundo a mitologia greco-romana, por exemplo, onde os deuses possuem poderes que os assemelham aos super-heróis conhecidos. Hércules não tem superforça? Mercúrio não é superveloz? Netuno não é o Senhor dos Mares? Qualquer semelhança não é mera coincidência.

Thor era cultuado pelos vikings

A mitologia nórdica também tem seus deuses-heróis que ajudavam e inspiravam os vikings em suas batalhas. É verdade que esses deuses foram adaptados para os quadrinhos e transformados em personagens coloridos, mas muito antes disso acontecer, eles já povoavam o imaginário e a devoção dos povos antigos.

Semelhanças à parte, alguns personagens de quadrinhos também exprimem sua fé. Alguns declaradamente, outros nem tanto, mas deixam pistas que podem nos levar à conclusão de suas crenças. Então, vamos à lista:

Demolidor, Noturno, Hellboy, Hulk e Adaga são católicos

Católicos: Noturno, dos X-Men, entrou no seminário por um período e tentou tornar-se padre. O Demolidor tem uma mãe freira, já foi coroinha quando criança e sempre aparece confessando-se com um padre nas HQs. Hellboy, o pequeno ser filho de um demônio com uma feiticeira, mas de boa índole, também professa o catolicismo e anda sempre com um terço entre as mãos. Adaga, da dupla com Manto, também vivia tomando conselhos com um padre de sua paróquia. O Hulk casou com Betty Ross numa igreja católica e sua versão do universo Ultimate também já foi vista com um terço nas mãos. Outros heróis: Daimon Hellstrom (filho de Satã), Víndix e Aurora (ambos da Tropa Alfa), Justiceiro, Flama (Novos Guerreiros), Demônio Azul (DC), Caçadora (DC), Besouro Azul (DC), Satana e os X-Men Gambit e Banshee. Interessante notar que grande parte dos personagens católicos são representados como demônios ou com aparência demoníaca.

Capitão América, Lanterna Verde e Homem-Aranha são protestantes

Protestantes: Religião predominante nos Estados Unidos, tem vários heróis seguidores. Entre eles, o Capitão América, o Homem-Aranha e o Lanterna Verde. Nenhum deles deu uma prova conclusiva de sua confissão religiosa, mas tudo leva a crer nessa suposição. O Capitão América, pelo fato de representar o estilo de vida americano e o Homem-Aranha, principalmente pelas cenas do seu casamento e da sua Tia May terem sido realizados por um pastor. Outros heróis: Flash, Robin, Homem de Gelo.

Super metodistas

Metodistas: Os principais seguidores desta religião nos quadrinhos pertencem à família Super: Superman, Superboy (Conner Kent) e Supergirl. Criado no interior do Kansas, o jovem Clark Kent teria herdado esta religião de seus pais adotivos e frequentemente foi representado diante de uma dessas igrejas, inclusive na série “Quatro Estações”, onde toma conselhos com um pastor. Outros heróis: Amanda Waller.

Magneto, Lince Negra e Coisa: judeus da Marvel.

Judeus: Magneto é assumidamente judeu, pois foi revelado sua dura infância nos campos de concentração. O Coisa, do Quarteto Fantástico, também já professou essa religião em algumas histórias do grupo. Kitty Pryde, dos X-Men, é outra que pertence a este grupo religioso. Outros heróis: Sasquatch (Tropa Alfa), Coruja (Watchmen) e Dr. Samson.

Motoqueiro Fantasma e Vampira: Batistas

Batistas: Vampira, dos X-Men, já se declarou batista. Além disso, ela provém do sul dos Estados Unidos, uma região predominantemente batista. Outro que acredita-se pertencer a esta religião é o Motoqueiro Fantasma. Outros heróis: Míssil (Novos Mutantes), Vulcão Negro, Falcão e Raio Negro.

Punho de Ferro, Wolverine e Homem-Radioativo são budistas

Budistas: a galera zen dos quadrinhos é formada pelo Punho de Ferro, o Homem-Radioativo e Wolverine. Acredita-se que o Batman, como passou um tempo no Oriente treinando para ter o controle do corpo e da mente, tenha recebido ensinamentos budistas, mas também há provas que ele pertença à religião anglicana (abaixo). Outros: O Sombra, Arqueiro Verde II (Connor Hawke) e Homem-Múltiplo (X-Men).

Anglicanos: Mulher Invisível, Tocha Humana e, possivelmente, Batman

Anglicanos: A Mulher Invisível e seu irmão, o Tocha Humana, pertencem a esta religião. O Batman, como foi dito, recebeu ensinamentos budistas, mas as cruzes presentes nos túmulos de seus familiares são do estilo usado pelos anglicanos, daí a suspeita que o Homem-Morcego pertença a esta religião, embora ele não seja um frequentador ativo. Uma teoria interessante é que ele tenha sido educado nesta religião, mas depois do assassinato de seus pais, tenha desacreditado de tudo e se afastou. Outros heróis: os X-Men Fera, Jean Grey, Psylocke e Anjo também são personagens anglicanos.

Jimmy Olsen, seguidor de Lutero

Luteranos: O principal representante desta religião nos quadrinhos é Jimmy Olsen, parceiro do Superman.

os heróis egípcios: Ísis, Cavaleiro da Lua, Adão Negro, Gavião Negro e Mulher-Gavião

Egípcios: Ísis, Adão Negro, Cavaleiro da Lua, Gavião Negro e Mulher Gavião são heróis que cultuam divindades egípcias.

Representantes da Mitologia: Capitão Marvel, Mulher-Maravilha, Hércules (gregos) e Thor (nórdicos)

Mitológicos: a Mulher-Maravilha, o Capitão Marvel e Hércules são heróis baseados na mitologia greco-romana. Já Thor, Valkíria, Miragem (Novos Mutantes) e Gelo (Liga da Justiça) são heróis que provém da mitologia nórdica.

Os ateus: Lex Luthor, Arqueiro Verde, Vespa e Colossus

Há muitas outras denominações religiosas, mas com poucos personagens representando-as. Há também aqueles que não declaram abertamente sua religião ou são ateus, caso de Lex Luthor, o Vespa, Arqueiro Verde (Oliver Queen) e Colossus (X-Men).

O objetivo deste post não foi enaltecer nenhuma religião em particular, mas sim mostrar que a religiosidade está presente em todos os lugares, até mesmo nos quadrinhos, com toda sua diversidade de crenças.

Saúde, Religião e Espiritualidade

Por: Fábio Fischer de Andrade

“Nem tudo que pode ser mensurado é importante assim como nem tudo que é importante pode ser mensurado” (Albert Einstein).

Qual o papel da religiosidade na vida das pessoas ? E da espirtiualidade ? Juntamente com a política e o futebol, a religião forma a santíssima trindade dos assuntos tabu, aqueles que não devem ser dicutidos em nossa cultura, sob pena de entrarmos em richas, brigas e por aí vai.

A espiritualidade sempre foi considerada por muitos estudiosos como não passível de ser discutida no que diz respeito à ciência. Aliás, muitos cientistas, como o inglês Richard Dawkins, consideram a religião, no mínimo, desnecessária. Para ele, ciência e religião n&at
ilde;o se misturam. Mas esta não é a discussão de hoje. Deixe-me fazer uma pergunta:

Você, leitor, é uma pessoa espiritualizada ?

Se não for, considere a possibilidade de tornar-se. Motivo: as evidências científicas apontam que pessoas que desenvolvem práticas espirituais e/ou religiosas apresentam melhores níveis de saúde e consequentemente uma qualidade de vida superior. É importante apontar que as pesquisas que buscam evidências científicas da influência da espiritualidade na saúde não são novidade, sendo conduzidas no mundo inteiro nos últimos 20 anos ou mais. Basta fazer uma busca simples, utilizando os termos “Espiritualidade + Saúde” no Scielo ou “Spirituality + Health” no PubMed ou mesmo no father Google e amplo material poderá ser acessado.


Estudar a relação entre saúde e espiritualidade não exige que se assuma a crença em Deus ou numa divindade suprema. Especialmente para o profissonal de saúde, é importante saber quão intenso é o impacto das crenças espirituais ou religiosas de uma pessoa e como isso vai influenciar a sua saúde ou a evolução de um quadro patológico, se ela estiver passando por um processo de recuperação (MOREIRA e cols.,2006).


Religião e Saúde estiveram interligados durante séculos. Na idade média, os Cavaleiros Hospitalários, monges guerreiros que comandavam os hospitais em Jerusalém na época das Cruzadas, realizavam as tarefas de um profissional que hoje conhecemos como médico. Instituições mantidas pelo clero eram comuns naquela época, fazendo a dissociação entre fé e cura praticamante impossível. No entanto, aqueles que sofriam de transtornos mentais frequentemente eram tratados como possuídos por forças e espíritos malévolos. No século XV, com a publicação da obra Malleus Maleficarum, estabelecendo as diretrizes e procedimentos para o manejo dos que estivessem “dominados por forças do mal”, milhares de inocentes foram queimados em fogueiras ou decaptados (KOENIG e cols, 2001).


Esta forma violenta de cuidar daqueles que sofriam de doenças mentais marcou profundamente as relações entre religião e saúde ao ponto de, já no século XIX, os profissionais de saúde mental considerassem sua influência como nociva. Freud (1997) era um grande crítico da influência da religião, considerando as idéias religiosas como criações humanas oriundas da necessidade de defesa contra a força esmagadoramente superior da natureza (…) são produtos do desejo do homem. As idéias de Freud contribuiram para reforçar uma idéia que já era difundida no final do século XIX, de que a religião era um estado social primitivo (MOREIRA e cols.,2006). Poucos foram aqueles que tentaram compreender a função psicológica da religião e da espiritualidade, reconhecendo que ambas têm papel importante na vida do homem, fazendo parte de um todo muito maior. Um dos pioneiros da exploração deste campo no século XX foi Jung (1978).


Religião, Espiritualidade, Religiosidade… são tudo a mesma coisa, certo ? Discordo. Algumas definições:
  • ESPIRITUALIDADE: Compreende elementos não mensuráveis, relacionados ao senso de realidade, significado transcendental, seu lugar e propósito no universo. Todos possuem, mesmo que seja nomeada ou definida de forma diferente.
  • RELIGIÃO: Expressão particular de crenças espirituais que envolvem códigos de ética, dooutrinas, dogmas, metáforas e mitos. É uma maneira de perceber o mundo.
  • RELIGIOSIDADE: Nível de envolvimento em uma prática religiosa.

Pensemos a espiritualidade como um destino. A religião seria uma das estradas para este destino. Já a religiosidade seria a intensidade e o grau de compromisso que uma pessoa tem de assumir para utilizar a mesma estrada rumo ao destino.


E o que a ciência diz sobre isso ? As evidências indicam que pessoas que praticam uma religião ou realizam práticas espirituais têm menos chances de adoecer, inclusive com relação aos quadros de transtorno mental. Entre aqueles que se encontram debilitados e/ou internados nos hospitais, os que são religiosos ou espiritualizados têm maior probabilidade de respeitar as orientações dos profissionais de saúde e, por consequência, recuperam-se com maior facilidade de suas enfermidades. Filhos criados em famílias com forte influência religiosa têm menores chances de se envolver em atos anti-sociais, consumo de drogas e demais delitos. Lembram daquela idéia de “corpo como lugar sagrado” ? Pois é, é bem por aí. No artigo de autoria de MOREIRA e colaboradores que cito nas referências existem mais dados sobre as pesquisas que estão sendo feitas tanto no Brasil como nos EUA.


Eu não tenho religião ! Como posso ser espiritualizado ?”


Ok, mas até um ateu pode ter um sentido na vida. Se a sua meta for trabalhar, construir uma carreira, constituir uma família feliz, envelhecer com saúde e no final apenas descansar os ossos num cantinho onde seus descendentes possam prestar homenagens, isso já seria um sentido ao menos razoável para a vida, não ? Penso serem a essas questões que a espiritualidade vem oferecer algumas respostas e orientações.



Referências:

FREUD, Sigmund. Volume XXI: Futuro de uma ilusão. Texto original: 1927. In: FREUD, Sigmund. Edição Eletrônica Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Versão 1.0.0.26. [S.I.]: Imago Editora, 1997. 1 CD-ROM.

JUNG, Carl Gustav. Psicologia e Religião. Tradução: Pe. Dom Mateus Ramalho Rocha, OSB. 2º. ed. Petrópolis: Vozes. 1978.


KOENIG, Harold George; McCULLOUGH, Michael E. ; LARSON, David B. Handbook of Religion and Health. New York: Oxford University Press. 2001. 712p.


MOREIRA-ALMEIDA, Alexander; LOTUFO NETO, Francisco; KOENIG, Harold G. Religiousness and Mental Health: A review. Revista Brasileira de Psiquiatria. [online] São Paulo, v.28, n.3, set.2006.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Pe. Lodi anima eleitores a superarem a tentação do voto nulo


Em um recente artigo sobre as eleições, o conhecido sacerdote pró-vida da diocese de Anápolis, adverte para o perigo de anular o voto ou votar em branco no segundo turno, pois estes votos contribuiriam “para eleger o candidato mais popular” e pede que o eleitor supere esta “tentação”, votando de acordo com a sua consciência.

“Para o eleitor cristão, não é tarefa fácil nem agradável escolher entre dois candidatos maus. A repugnância pelo aborto leva-nos à tentação – à qual devemos resistir – de anular o próprio voto, num gesto de desdém”, afirmou o sacerdote.

“Essa atitude, apesar de trazer alguma satisfação psicológica, acaba por contribuir para o aumento do mal que se quereria evitar. Os votos nulos, assim como os brancos, não são computados (art. 77, §2º, CF). Mas eles acabam contribuindo para eleger o candidato mais popular. Para exemplificar: se dentre 1000 pessoas, nenhuma tiver votado branco ou nulo, todos os votos serão válidos e ganhará o candidato que receber mais de 50% dos votos, ou seja, 501 votos. Mas se dentre essas 1000 pessoas, 50 tiverem votado branco ou nulo, significa que teremos apenas 950 votos válidos. Portanto, o mesmo candidato será eleito se alcançar 476 votos”, destacou o Pe. Lodi.

“Esta é uma hora crítica, em que precisamos imitar a conduta de Deus, que tantas vezes tolera um mal a fim de evitar um mal maior (…), disse o padre recordando que “em vez de arrancar o joio (por causa do perigo de arrancar com ele também o trigo), o Senhor manda deixar que joio e trigo cresçam até a hora da colheita (Mt 13,29). Em seu desejo de salvar tudo o que pode ser salvo, Ele não quebra a cana já rachada nem apaga a mecha que ainda fumega (Mt 12,20)”.

Assim, o sacerdote anima a que “no dia 31 de outubro, antes de entrar na cabine eleitoral, talvez seja conveniente rezar “não nos deixeis cair em tentação (de anular o voto)”.
No dia 3 de outubro de 2010, primeiro turno das eleições, houve 111.193.747 votos para presidente, dos quais 3.479.340 brancos e 6.124.254 nulos.

O sujo e o mal lavado?


O pensamento de muitos é: “Sou católica praticante e gostaria de lembrar aqueles que sentem repulsa pela Dilma por causa do aborto, que o Serra, quando foi ministro da saúde, se posicionou a favor do aborto. Quanto a isso não vejo diferença entre eles, porém a Igreja prega a preferência pelos mais pobres, coisa que não vi no governo do PSDB, mas vi no governo atual.”

“Não acho que a Dilma seja a melhor candidata, entretanto votar em Serra jamais.”

Quando era ministro da saúde, José Serra assinou uma norma tecnica fazendo com que o serviço do aborto fosse oferecido nos hospitais brasileiros a mulheres vítimas de violência sexual. Isso é fato denunciado inclusive pelo falecido padre Léo, da comunidade Canção Nova.

Não proponho que esqueçamos aquilo que fez José Serra no passado, mas que olhemos principalmente para o que querem fazer Dilma e Serra no comando do nosso país. Serra já assinou documento que permitia que mulheres estupradas abortassem em hospitais, mas não defendeu uma ampliação da lei do aborto no Brasil, como já fez a senhora candidata do PT, Dilma Rousseff. Não é, ao mesmo tempo, desconhecido de ninguém o incansável trabalho dos deputados do Partido dos Trabalhadores na defesa da descriminalização do aborto no Brasil. Não é desconhecido de ninguém o 3º Programa Nacional de Direitos Humanos do governo Lula que defendia legalização do aborto, censura à imprensa etc.

O candidato José Serra não milita pela descriminalização do aborto em nosso país. Para ele, a legalização da prática no Brasil liberaria o que ele chamou de carnificina. Posição bem diferente da manifestada por Dilma, que considera o aborto uma “questão de saúde pública”. A candidata já afirmou certa vez que é um absurdo que, no Brasil, ainda não haja descriminalização do aborto.

Serra não é o melhor candidato mais votar em Dilma jamais!


Lógica do abortismo

Por: Olavo de Carvalho

O aborto só é uma questão moral porque ninguém conseguiu jamais provar, com certeza absoluta, que um feto é mera extensão do corpo da mãe ou um ser humano de pleno direito. A existência mesma da discussão interminável mostra que os argumentos de parte a parte soam inconvincentes a quem os ouve, se não também a quem os emite. Existe aí portanto uma dúvida legítima, que nenhuma resposta tem podido aplacar. Transposta ao plano das decisões práticas, essa dúvida transforma-se na escolha entre proibir ou autorizar um ato que tem cinqüenta por cento de chances de ser uma inocente operação cirúrgica como qualquer outra, ou de ser, em vez disso, um homicídio premeditado. Nessas condições, a única opção moralmente justificada é, com toda a evidência, abster-se de praticá-lo. À luz da razão, nenhum ser humano pode arrogar-se o direito de cometer livremente um ato que ele próprio não sabe dizer, com segurança, se é ou não um homicídio. Mais ainda: entre a prudência que evita correr o risco desse homicídio e a afoiteza que se apressa em cometê-lo em nome de tais ou quais benefícios sociais hipotéticos, o ônus da prova cabe, decerto, aos defensores da segunda alternativa. Jamais tendo havido um abortista capaz de provar com razões cabais a inumanidade dos fetos, seus adversários têm todo o direito, e até o dever indeclinável, de exigir que ele se abstenha de praticar uma ação cuja inocência é matéria de incerteza até para ele próprio.

Se esse argumento é evidente por si mesmo, é também manifesto que a quase totalidade dos abortistas opinantes hoje em dia não logra perceber o seu alcance, pela simples razão de que a opção pelo aborto supõe a incapacidade – ou, em certos casos, a má vontade criminosa – de apreender a noção de "espécie". Espécie é um conjunto de traços comuns, inatos e inseparáveis, cuja presença enquadra um indivíduo, de uma vez para sempre, numa natureza que ele compartilha com outros tantos indivíduos. Pertencem à mesma espécie, eternamente, até mesmo os seus membros ainda não nascidos, inclusive os não gerados, que quando gerados e nascidos vierem a portar os mesmos traços comuns. Não é difícil compreender que os gatos do século XXIII, quando nascerem, serão gatos e não tomates.

A opção pelo abortismo exige, como condição prévia, a incapacidade ou recusa de apreender essa noção. Para o abortista, a condição de "ser humano" não é uma qualidade inata definidora dos membros da espécie, mas uma convenção que os já nascidos podem, a seu talante, aplicar ou deixar de aplicar aos que ainda não nasceram. Quem decide se o feto em gestação pertence ou não à humanidade é um consenso social, não a natureza das coisas.

O grau de confusão mental necessário para acreditar nessa idéia não é pequeno. Tanto que raramente os abortistas alegam de maneira clara e explícita essa premissa fundante dos seus argumentos. Em geral mantêm-na oculta, entre névoas (até para si próprios), porque pressentem que enunciá-la em voz alta seria desmascará-la, no ato, como presunção antropológica sem qualquer fundamento possível e, aliás, de aplicação catastrófica: se a condição de ser humano é uma convenção social, nada impede que uma convenção posterior a revogue, negando a humanidade de retardados mentais, de aleijados, de homossexuais, de negros, de judeus, de ciganos ou de quem quer que, segundo os caprichos do momento, pareça inconveniente.

Com toda a clareza que se poderia exigir, a opção pelo abortismo repousa no apelo irracional à inexistente autoridade de conferir ou negar, a quem bem se entenda, o estatuto de ser humano, de bicho, de coisa ou de pedaço de coisa.

Não espanta que pessoas capazes de tamanho barbarismo mental sejam também imunes a outras imposições da consciência moral comum, como por exemplo o dever que um político tem de prestar contas dos compromissos assumidos por ele ou por seu partido. É com insensibilidade moral verdadeiramente sociopática que o sr. Lula da Silva e sua querida Dona Dilma, após terem subscrito o programa de um partido que ama e venera o aborto ao ponto de expulsar quem se oponha a essa idéia, saem ostentando inocência de qualquer cumplicidade com a proposta abortista.
Seria tolice esperar coerência moral de indivíduos que não respeitam nem mesmo o compromisso de reconhecer que as demais pessoas humanas pertencem à mesma espécie deles por natureza e não por uma generosa – e altamente revogável – concessão da sua parte.

Também não é de espantar que, na ânsia de impor sua vontade de poder, mintam como demônios. Vejam os números de mulheres supostamente vítimas anuais do aborto ilegal, que eles alegam para enaltecer as virtudes sociais imaginárias do aborto legalizado. Eram milhões, baixaram para milhares, depois viraram algumas centenas. Agora parece que fecharam negócio em 180, quando o próprio SUS já admitiu que não passam de oito ou nove. É claro: se você não apreende ou não respeita nem mesmo a distinção entre espécies, como não seria também indiferente à exatidão das quantidades? Uma deformidade mental traz a outra embutida.

Aristóteles aconselhava evitar o debate com adversários incapazes de reconhecer ou de obedecer as regras elementares da busca da verdade. Se algum abortista desejasse a verdade, teria de reconhecer que é incapaz de provar a inumanidade dos fetos e admitir que, no fundo, eles serem humanos ou não é coisa que não interfere, no mais mínimo que seja, na sua decisão de matá-los. Mas confessar isso seria exibir um crachá de sociopata. E sociopatas, por definição e fatalidade intrínseca, vivem de parecer que não o são.